Milton Nascimento
Saudade Dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)
[Letra de “Saudades dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)”]:

[Verso 1]

Lá vinha o bonde no sobe e desce ladeira
E o motorneiro parava a orquestra um minuto
Para me contar casos da campanha da Itália
E do tiro que ele não levou
Levei um susto imenso
Nas asas da Panair

Descobri que as coisas mudam
E que tudo é pequeno
Nas asas da Panair

[Verso 2]

E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo o fruto
Sem nenhum pecado sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois

Descobri que a minha arma é o que a memória guarda
Dos tempos da Panair
[Refrão]

Nada de triste existe que não se esqueça
Alguém insiste e fala ao coração

Tudo de triste existe, e não se esquece
Alguém insiste, e fere o coração

Nada de novo existe nesse planeta
Que não se fale aqui, na mesa de bar

[Verso 3]

E aquela briga e aquela fome de bola
E aquele tango e aquela dama da noite
E aquela mancha e a fala oculta
Que no fundo do quintal morreu
Morri a cada dia, nos dias que eu vivi

Cerveja que tomo hoje é apenas em memória
Dos tempos da Panair

A primeira Coca-Cola foi, me lembro bem agora
Nas asas da Panair

A maior das maravilhas foi voando sobre o mundo
Nas asas da Panair
[Instrumental]

[Outro]

Em volte desta mesa velhos e moços
Lembrando o que já foi
Em volta dessa mesa existem outras
Falando tão igual
Em volta dessas mesas existe a rua
Vivendo seu normal
Em volta dessa rua uma cidade
Sonhando seus metais
Em volta da cidade…