Vitor Brauer
Afinal
As ruas andam frias, de uma lucidez irrecuperável
Há um rato vivendo como vivem os ratos
Na rua. Mas ainda é dia sem sol
Ao longe.
Eu peço um café em uma rua de Belo Horizonte
como fazem aqueles
como eu esperam pelos seus encontros.
Há uma lucidez irrecuperável nessa cidade
E eu cheguei há 30 minutos, como fazem aqueles
Como eu. Afinal.
Ao longe,
penso em dizer sim.
Viver, afinal, na avenida pra não me perder nas esquinas
Já disse que meu tempo, eu vivo num tempo
rabiscado. Pago aluguel e me adianto.
Me confundo com seus olhos de alguém que desconheço.
Caminhas pela cidade, certa
Ao longe.
Vais pra longe da fumaça do meu café
Meus olhos já te perderam, sem nos
vermos conhecermos.
Sem cheiro e sem suor.
Clara anda a cidade.
A vida anda tão lúcida. E cabe no lugar.
Não cai, nem
se culpa.
O café queima, combina com o cigarro
E meu suor da cidade lúcida.
A cidade anda tão lúcida.
Fria
Fria que está, segue com outro café.
Eu peço outro café, mas não nos confundimos.

Lembranças escrevo, vinganças de medo.
E onde há de estar meu amor
meu costume tão dolorido
Escrevo lembranças num espelho que lembra amor
Lembra subir a cidade lutar viver
Mas as ruas andam tão lúcidas
A cidade anda fria e lúcida
Irrecuperável.
E é época de ter um livro.

Sim, já é noite.
A noite sangra feito um rato na rua.
E mostra que as coisas continuam existindo.
Na cidade cheia de morros.
Lembra que nada disso vive em mim.
Porque sonho, eu sonho
E viver seria só reescrever as canções
Nos bares e na minha cama.
Não entendo dessa lucidez
Penso em poder te ver. Sem terminar jamais.
No terceiro café. Sei que não estás.
Não me olhas, nem dizes meu nome.
Você morreu. Eu penso no seu calor.
Seu suor, seu café fraco
feito meu peito.
Penso em você. Nos amamos como
a melhor ficção. Descobrimos a despedida.
Me humilhei pela vida que
sonhei. Me humilhei pra viver nossa paixão
errada
Me humilhei.

Sentado na esquina.
Fomos novos, amantes.
Mas você não está. E eu me lamento
de escrever em espelhos.
Me humilho, por tanta vingança
por ser patético.
Porque você não existe em mim.
Meu amor.
Você morreu sem que eu entendesse
Você morreu sem que eu entendesse de morrer.
Você se foi feito um livro emprestado que se perde.
Porque você não existe em mim.
Porque você não existe em mim.
Porque você não existe em mim.
Porque você não existe em mim.
Porque você não existe em mim.
Meu amor. Sem você. Fria.
Ao longe. De noite, em noite
Noite por noite, por lágrima e ressaca.
Até de manhã e a dor não vai.
Por que amar não existe em mim
E ainda te amo. Torto e errado.
Meu amor.
Há razões pra todos que escutam.
Que vivem, afinal.