[Letra de "Triticum"]
[Verso 1]
Não quero dividir estas partículas de oxigénio contigo!
Mesmo parecendo infinitas são menos enquanto ‘tás vivo
Somos tão diferentes
Que nem nisso eu quero que sejamos parecidos
E foi assim que comecei a não conseguir dormir
O sono ‘tava-me a roubar o tempo todo
E além disso os pesadelos levam-me a sítios onde não quero ir
Trepei co’s os pés ensopados as pedras
E estranhamente esmaguei-as
Quando escorreguei nelas transformaram-se em cabeças
Mas eu tinha que ir
Desfiguraram-se antes de eu as distinguir
Agarraram-me antes de eu conseguir sair dali
Foram elas que me acordaram sem que adormecesse
P’a suportá-las só com o candeeiro e um cigarro aceso
Até que aquela sensação desaparecesse
Suportei-a de todas as vezes
Mas nesta quanto mais ar tu respiras mais se propaga
Peguei na garrafa da mesa, bebi a água
Eu engoli tal como as coisas que ouvi que não se apagaram
Arderam como os cigarros
Que rapidamente acabaram nos meus dedos
'Tão quentes que os acendia com eles
[Build]
Tremi até ficar de braços presos ao pensamento
Senti os lábios rubros a queimar como gelo
'Tão frios que me rasgaram a língua ao tentar dizê-lo
E foi assim que comecei a não conseguir dormir
[Verso 2]
Sangras-te com a chave ao enterrar-se na órbita
Sangrei com a chave ao enterrar-se na porta
Arranquei-te os ossos ao puxá-la de volta
Arranquei a madeira ao puxá-la de volta
Reguei-te, c’um nó em cada rótula
Entornei, a água caiu da cómoda
Acendi as cordas, acordei com o fumo
Acendi o isqueiro e acordei com o fumo
Depois saí pelos furos da persiana (Confuso)
Quando procuro o ponto zero dos murmúrios
Alguns começam algures no meu cérebro
Repetem-se constantemente em eco
Falo sozinho quando as vozes batem no teto
Como se ‘tá tão perto?
Meço a distância entre o meu corpo e o cubo
Para saber se tu és em concreto quem julgo
Se és quem eu culpo ou um distúrbio
Mas os teus cigarros queimaram-me tudo
E os teus gritos explicam porque não durmo
E os dedos partidos, vasos, tecidos rompidos no punho
Até que ponto me cruzo
Com a dimensão dos meus sonhos quando acordado?
Tenho questionado o meu estado como se ‘tivesse só num
Depois de ter estado em vários percebi
Que todos tinham algo em comum
[Build]
“Doutor Humberto já não sinto os efeitos do Dormicum
Hoje o mais certo é que quebre o jejum com Triticum.”
Mandei um nem demorou um seg…
[Verso 3]
Os baldes oscilavam ao ritmo dos meus passos
A chuva caía, tornava-os mais pesados
O suor escorria, escorregava-me pelos braços
Vertendo terra enquanto tentava equilibra-los
C’os sapatos enterrados em pequenos lagos
Dificultavam-me o trajecto do jardim ao terraço
Já deves caber no buraco se te cortar aos pedaços
Só que o meu medo ocupa mais espaço
Voltei a nado pelos lagos
Que eu tinha formado c’os meus passos
Deformados pela água que os tapava à medida que eu me enterrava ao procurá-lo um pouco mais abaixo
Ao encontrá-lo apercebi-me do meu cansaço
O chão tornou-se demasiado viscoso para ser calcado
A hipótese de ficar preso por momentos tornou-se num facto
Até que fui puxado