Mariana Elisabetsky
Se Renda
[NORMA]
Não resista mais
Tudo está em paz
O perigo já passou
Pode descansar
Não há por que lutar
Tudo acalmou, então se renda

Tiros de canhões
Traçam seus clarões
Mas eu luto até morrer
Mandem seus soldados
Nunca vou ceder
Nada vai fazer com que eu me renda
Me despeço até que eu me renda

[NORMA, falado]
— Você não vai me cobrar um absurdo só porque eu sou rica, não é?

[JOE, falado]
— Olha, a senhora tá falando com a pessoa errada. Eu só tive um problema com o meu carro e parei na sua garagem

[NORMA, falado]
— Fora!

[JOE, falado]
— Tudo bem. Eu sinto muito pela perda do seu amigo
[NORMA, falado]
— Fora daqui!

[JOE, falado]
— Eu já não te vi em algum lugar?

[NORMA, falado]
— Ou eu devo chamar o meu criado?

[JOE, falado]
— Você não é Norma Desmond? Você não é Norma Desmond? Você fazia filmes. Você era a maior

[NORMA, falado]
— Eu sou a maior. São os filmes que ficaram menores

[NORMA]
Pouco tempo atrás a direção
Valorizava a atuação
Uma expressão dizia tudo
Hoje o som virou lugar comum
E se contrata qualquer um
Ninguém mais faz cinema mudo

Tantos ídolos abandonados
Os gênios, os deuses, as grandes divas
Ousaram manchar seu altar
Já não escutam no silêncio
O que eu dizia com o meu olhar
[JOE, falado]
— Eu não tenho culpa, sou só um escritor