Vitor Rocha
Tem Que Ser Tão
[OSVALDO]
Eu vou contar uma história
Que eu não sei como começa
Eu vou contar uma história
Que eu não sei qual é o fim

Eu vou buscar na memória
E vou rimando sem pressa
Pois quando eu falo do mundo
Revelo o que há em mim

DOROTÉIA: Oxente, você nem sabe a história que vai contar?
OSVALDO: Eu sei a história que vou contar, o que eu não sei é a história que você vai ouvir

História boa de se contar
É conto que a gente não conta só
É de braço dado, de laço e nó
Que a linha da vida fica maior

Conto com você pra me ajudar
Sorte nessa vida é compartilhar
É aí que mora, ai, ai, ai...
O borogodó

DOROTÉIA: Eu? Como eu vou ajudar a contar a história?
OSVALDO: É sobre isso mesmo que fala essa lenda. A história do Mágico Di Ó!
DOROTÉIA: Mágico? Tenha dó!
OSVALDO: Como é?
DOROTÉIA: Isso não existe não…
OSVALDO: Sabe que falando assim, tu fica até meio parecida com a protagonista?
DOROTÉIA: Fico, é?
OSVALDO: Sim! O jeito, o cabelo, o sorriso. Até os pulmão lembram um pouquinho
DOROTÉIA: Oxe
OSVALDO: E eu sei que lá no fundo ela sonha com alguma coisa muito especial
Todo mundo, no fundo, sempre traz consigo
Um sonho, uma vontade de querer ser
Quem disser que não é que tá mentindo
Ou então precisando parar pra ver

OSVALDO: Preste atenção, Dorotéia, é preciso fechar os olhos pra ver direito, ou melhor, pra ver como quiser ver…
DOROTÉIA: Ô, fulerage, agora ele vai dizer que essa história se passa num reino encantado…
OSVALDO: Exatamente!
DOROTÉIA: É o que?
OSVALDO: Um terra cheia de magia, berço da arte e tanta história bonita… Um reino chamado Nordeste brasileiro!
DOROTÉIA: Aqui?
OSVALDO: Um reino encantado, porém enfeitiçado por um maldição
DOROTÉIA: Que maldição?
OSVALDO: Uma maldição que levou toda a água dessa terra embora e ali fez ser um lugar tão sofrido, ser tão amargo e ser tão triste, que lhe deram o nome de ser-tão

[OSVALDO (CORO)]
Eu vou lhe pedir pra não enxugar
O choro que talvez venha por aí
O que o nosso cenário mais carece
É de alguém que o regue pra florir
E pra viver aqui

Tem que ser tão firme
Tem que ser tão forte
Onde sonhar é crime
E esperar é morte
Tem que ser tão duro (firme)
Tem que ser tão bravo (forte)
Onde não tem futuro
O povo nasce escravo

OSVALDO: No sertão é assim: é um ser-tão sem fim

[CORO]
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão...

OSVALDO: E o povo que vivia ali foi se enganando, se acomodando e se encostando. Óia só que ironia: até mesmo a sede por felicidade foi-se embora, o povo foi-se embora. E a esperança ficou lá fora no portão batendo palma, pedindo pra entrar. Mas só que ninguém mais vê razão pra acreditar, nem mesmo a protagonista…
DOROTÉIA: Mas tu disse que ela sonhava com alguma coisa muito especial!
OSVALDO: E sonha!
DOROTÉIA: Com o quê?
OSVALDO: Me diga você que parece ser tão parecida com ela
DOROTÉIA: Eu não sei!
OSVALDO: Ah, que pena! Então parece que a história termina aqui...

[DOROTÉIA]
Eu vou contar uma história
Que eu não sei como começa
Eu vou contar uma história
Que eu não sei qual é o fim
Eu vou contar uma história
Que eu não sei se interessa
Mas essa é a minha história
E eu vou contar mesmo assim

[CORO]
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão...

OSVALDO: Então eu vou lhe dar uma história de verdade, mas não se esqueça: a realidade é uma coisa muito relativa

[DOROTÉIA]
No sertão é assim

[CORO]
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão
Tem que ser tão...

OSVALDO: Voar pra gente é impossível e mamão com açúcar pra patativa

[DOROTÉIA]
É um ser tão sem fim

[CORO]
Tem que ser tão!