Vitor Rocha
Reza a Lenda (Reprise)
[CIRANDEIRO]
— Mas, Leila, começou tudo de novo?

[ANCIÃ]
— Começou? Não começou
Não começou porque não acabou
Uma história só acaba quando deixam de contar
Por isso hoje eu moro em qualquer canto
Resisto em qualquer lugar
Pois moro no meu próprio canto
E só existo se cantar

[CIRANDEIROS]
E na quarta vez, um lugar: a memória
A lenda não se acaba enquanto alguém quiser contar
Um povo que se escuta sabe bem o que diz
Um homem sem história é uma planta sem raíz

Por isso a cada canto, a origem se renova
E essa fase da história, nós chamamos "Lua Nova"

Reza a lenda de um Boto Cor-de-Rosa
Que mora no mar e o filho na areia
Reza a lenda de um canto que encanta
Será que ela então seria uma Sereia?
E quem vai lembrar
Das partes da história que ninguém se importa?
Como um povo vai viver, como vai lutar?
Se um passado se apaga, do futuro se desconta

Reza a lenda que ele era o Curupira
Com fogo no cabelo e os pés pra trás
Reza a lenda sobre a Mãe-de-Ouro
Que cuida das mulheres e dos minerais

Reza a lenda que a gente se colore
E a tinta de um povo é o seu folclore
Reza a lenda que o amor não se rende

Ê, A, Ê
Não se entende
Ê, A, Ê
Só se sente
Ê, A, Ê
É semente
Ê, Á, Ê, Ê, Á, Ê, Ô, Ê
Ê, Á, Ê, Ê, Á, Ê, Ô, Ê
Ê, Á, Ê, Ê, Á, Ê, Ô, Ê...

[LEILA E MADRINHA]
Reza a lenda!