Uno Consultório
Mecanismos
[Verso 1: Eliot]
Sou uma semente concebido pelo tempo
Consumindo cada momento concedido pelo presente
Recebido por um ventre
Crente para sempre que sou um acidente
Assim sente como o mundo, aqui sempre como um servo
Assimilo tudo o que vou vendo
Perdendo tudo o que vou tendo
Dou-me a tudo o que não temo
Medo até de mim me'mo
Vendo tudo o que não rende
Tento ser melhor do que tudo o que não sente
Nada, calma a alma quer o bem mas a máquina quer domá-lo
A arma do sistema é meter a farda no animal
Tentar mudar o mundo para quê?
Se balas não param um imortal
A tua vida só tem valor se a viveres por alto
Tu fazes parte da arte do mecanismo universal
Tu és o bem, tu és o mal
O mestre, o maestro do irreal
Onde é Meca, diz-me
'Tamos sempre tão longe do nosso ideal (Mecanismos)
[Verso 2: TILT]
Diabo quer que eu lamba a lâmina sozinho
Loop inconsciente no limbo em que eu caminho
Esquerdo, tenso e obsoleto
Como os passo que eu dou com o meu esqueleto
No me'mo espeto, no me'mo espinho
Já te conheci noutras rodas quando eram só rosas
Vivas e não mortas
Não é preciso boas videntes para saber que algo está mal
Quando encaixam dentes em bocas diferentes de metal
É desperdício do ralo, escorro pela corrente
Quem sobe fica dormente e quem sabe sente
'Tou de volta ao mesmo ácido até perder a cor
Não existe amor, no máximo vives por favor
Querem te apaziguar a dor
Sangue não existe no âmbito (Ai é?)
Vida é foda então o meu karma é tântrico
Há quem morra na praia, eu bóio no Atlântico
Flutuo como cobaia na gandaia do mecânico
[Verso 3: Cevas]
Mente a trabalhar a mil
De direta neste tópico, é lógico
Engendrar orgânica à parte do mecatrónico
Afónico se me calar dos mecanismos fechados
A olhos largos visto que de cima estamos dentro enclausurados
Organicamente fazemos parte deste concreto
O que antes era mecânico hoje é magma de intelecto
Somos substituídos por uma tecnologia avançada
Até chegarmos ao objetivo de ociosidade apurada
Será essa a fachada que nos afasta de nós
E quando dás por ti em vez de te libertar fizeste tótós
Após a posição de apreensão do existido
Contido no que se passou até ficares deprimido
É isso que tens sentido ou depressão é só p'ra alguns
Fiquei descontraído por perceber destes assuntos
Um viagem organizada por engrenagens afinal
Uma passagem de movimento ao estouro da roda dentada
[Verso 4: Benny B]
Mecânica silábica, engrenagem enferrujada
Mas aqui ninguém é de plástico, mano embraiagem engrenada
Movimento fixo de elementos firmes automatizados
Algo relacionados, unidos entre si
Procedimento definido, vários tipos de funções
Espaços vazios ou longe a adquirir junções
Nem venho sem ranho, escarro empenho
Bem sei dos aparatos que arranjo
Engenhos, dispositivos, nem tantos positivos
E aplico skill efetivamente
Pelas minhas medidas mas isto milimetricamente
Com ou sem métrica me'mo
Poética sem matemática com letras
Precisão militar pa' aprenderes que não há margem de erro
Pa' não curto nada o pessoal que não sabe as coordenadas
Porque estragam tudo, encravam esta máquina feita de dogmas
Já assinalei a demora, já assimilaste?
Peça suja sem que encaixe
Até se assustam, assino em baixo
Poeta Ferrugem