Quarteto 1111
Onde, Quando, Como, Porquê, Cantamos Pessoas Vivas - 2ª Parte
Onde ?
Quando?
Como?
Porquê?
Cantamos pessoas vivas
Porque os ponteiros do tempo
Não pararam
Nas torres das igrejas em ruínas
E avançam calados
E discretos
Um pouco para baixo, um pouco para cima
Porque os ventos mudaram para sempre
Apagando as pálidas imagens
Dos mitos decadentes, Belle Époque
Que fugiram para longínquas paragens
Porque o sorriso voltou
De novo ao rosto
Daqueles que ficaram vigilantes
Perfumando cidades e aldeias
Que deixaram de ser como eram dantes
Também eu me sinto um homem novo
No sangue que me corre pelas veias
Porque o stress apagou todas as fontes
Que agora me refrescam as ideias
Como um raio de sol
Na porta entreaberta
Como quem tem um filho
Pela primeira vez
Como quem anda nu
Sobre a praia deserta
Como quem pisa lama
Entre os dedos dos pés
Como um poema de maio
Sobre o meu país
Como quem dorme ao relento
Em pleno mês de agosto
Como as linhas da vida
Na palma da mão
São as coisas simples
Que me dão mais gosto
São as coisas simples
Que me dão mais gosto
Como quem passa sempre
No mesmo lugar
Como o tempo escrevendo
Sulcos no meu rosto
Como a luz desenhando
Círculos de cor
Entre as nuvens que sobram
Na linha do sol posto
Como o vento agitando
A rama dos pinhais
Uma sombra cobrindo
Parte do meu corpo
Como o som lembrado
Algum tempo depois
São as coisas simples
Que me dão mais gosto
São as coisas simples
Que me dão mais gosto
São as coisas simples
Que me dão mais gosto
E depois de começar
Embarcamos na canção
Sem pompas nem grandezas
Com o povo no coração
P'ra isso serve a canção
Navalha de corpo inteiro
P'ra dar o golpe certeiro
Em quem lhes nega a razão
Acabar também é simples
Mais simples do que começar
Desenhamos
Um país
Com o máximo rigor
Sem pessoas
Nem fronteiras
E pomos-lhe
Lá dentro
Palavras certeiras
É por aqui
Que se termina
Pelas palavras simples
P'ra isso serve a canção
Definindo a situação
Cantando pessoas vivas
Cantando pessoas vivas
Cantando pessoas vivas
Cantando pessoas vivas