Rimas & Melodias
Coroação
[Verso 1: Drik Barbosa]
Desde que nasci
Vítima
Da crueldade que o racismo dita
Vítima
Da história que os livro de história ainda invisibiliza

Chega de senzala
Dandaras
Nossa luz exala superação
Desde a senzala nosso corpo sempre foi alvo da hipersexualização

Canto alto por libertação, legitimação
Ouça nossa voz
Nova geração, não corremos sós
Chegou o dia da coroação

É noiz por nóiz
Tô por nóiz pegando o que tiraram das nossas mãos
Sonhos que tiraram das nossas mães
Tanto dano, fruto de tanta ambição

Quantas Maria Eduarda vão ter que morrer pra despertar sua comoção
Seus olhares são como balas perdidas
Não hesitam em barrar nossa ascensão

Tô pra peitar cada um que julga
Foda-se os padrões, tô tipo a Conka
É o poder das preta, ceis tem que aceitar
Nossa existência vem pra comprovar

Vem pra comprovar
Jamais fomos menos, não queremos menos
Eu tô pra cobrar
Na casa grande o senhor do engenho burla leis
Chamam de política
Na cidade grande o senhor do engenho
Se chama Segurança Militar

[Refrão]
É sobre lutar, sobre nos amar
É sobre viver e sobreviver
É sobre lutar, sobre conquistar
É sobre fazer valer

[Coro]
Toda força, mulher preta
Toda garra, mulher preta
Quanta força, mulher preta
Somos glória, mulher preta

[Verso 2: Stefanie]
Vim passar a visão sou colírio, querem apagar nosso brilho
Nossa cor é empecilho
Teu olhar torto já não me intimida, de lá pra cá já muito reprimidas
Deprimidas, muito orgulho hoje de cabeça erguida
Quem tiver na mesma então me siga
O papo é de progresso não de intriga, mas se liga

Querem te vender uma imagem européia que não condiz com a tua
Pretinha não abraça que não estamos na TV e sim na rua
Porque lá somos a cota, só nos chamam quando eles querem
Botam meia dúzia pra não ficar chato mas sabemos o que preferem
Termos pejorativos nos referem, que a nossa beleza e exótica
Eu não sou mula nem anta, examine sua ótica

A cor do pecado, só vou te dar um recado
Se o bolso tiver lotado as pretas não tão do lado
Não tô falando caô, não dão o devido valor
Dá pra contar quantas vezes vi uma com um jogador
Também não temos rivais, só não tratadas iguais
Bem claro os dados não mentem e nós morremos mais

Não vou carregar esse estigma e terão que nos levar a sério
Várias pretas articuladas nós temos poder pra montar um império
Marruda nós somos, fechamos a cara
Fortemente a gente declara
Que nós não vamos morrer na praia, então se prepara!

[Interlúdio: Scratches/colagens DJ Mayra Maldjian com samples de “Me gritaron negra”, da poeta Victoria Santa Cruz]