[Verso]
Por favor Deus perdoe o meu hiato
Foram cinco anos tirando e pondo casaco
E no meio desse jejum vi minha mãe ser vítima de feminicídio
E os vermes na net vindo me falar de Sulícidio
"Mas os cara falou do sudeste", cabra da peste quebrou a banca
Cresci no Rio, nasci em Sampa, tanto faz, fi de pernambucana
Garoto, isso não é minissérie, é som de ladrão tipo maad city
Nesse meio me inseri e não foi fazendo rap
Vim das reú, cria das ruas, seja no xarpi ou na rima
O medo nunca foi de cair e sim de não pôr meu nome lá em cima
Sigo quebrando dogmas em busca de outro paradigma
Foda-se o hype, favela precisa de auto-estima
Mais do que jogo, veja a lava, trago fogo em palavras
Enquanto uns assopram brasa, eu to reinventando o fogo
Falo de evolução humana, quem dera fosse só rimando
Passo um: pare de achar que o inferno é os outros
Passo dois: caminhe sem seguir passos
Em meio à exposição obrigatória vejo a arte em colapso
Vejo meus manos na revista não em quadros
Quando falo revista quero dizer enquadro
Me diz, mãe, como transformaram os lobos em cães?
Às vezes eu penso:
É sério que eles acham que respeitar o genocídio negro é fazer mais de 400 anos de silêncio?