Ana acorda, faz café
Fuma um cigarro na varanda e diz:
"Não vou mais fazer do mesmo"
Mas o dia é sempre o mesmo
Bota a saia, bota a máscara
Bota fé de que não vai chover
E que vai sair de sandália
Mas com esse tempo não vai dar
Ana
Não quero discutir
Porque eu tô só por ti
Pega o meu calor
Mas não vá se queimar
Passa o protetor solar
Sobre e a rua e pedala
Enquanto na calçada
Jaz um velho com sangue na mão:
Morte por caminhão
Pega o parque e segue adentro
Da agência onde tem gente que quer inventar
Um novo jeito de vender colchão;
Propaganda na televisão
Chora no banheiro
Mas aguenta o dia inteiro
Com na garganta o desespero
Almoça só num banquinho
Desenhando num caderninho
Com um traço bem fraquinho
A labuta lhe assola
O nome de seu gato é Frajola
Deixa o vento bater
Ela é a menina que não quis crescer
Curvas retilíneas;
O deserto mais úmido de todos
é a porra do Saara;
Isso não rima nem faz sentido
Mil jeitos de se perder;
Nenhum motivo pra não beber
O chefe escroto nem vai perceber
Tem que fazer o TCC
Ana eu amo você
Por favor não vá se perder
Chega em casa, tira a saia
Senta no sofá e fala:
"Meu bem, tá foda de viver
To cansada de sofrer"
Saca a rolha, pega a taça
Serve o vinho, traga a fumaça
Bate a cinza numa lata;
Assiste um filme que não tem graça
Deita e lê um De Assis;
Perfume aroma de cassis
Tá sem sono se vira e diz:
"Como anda aquele plano
De ir pra Itália no fim do ano?"
Assovia 'O Vento Minuano'