Claudio Botelho
Solilóquio
[VALJEAN]
Eis o que sou! Meu Deus, eu sou o que sou!
Que animal eu virei? Que grande mal me tomou?
E já é tarde demais e já não dá pra voltar
E nada restou só meu ódio a gritar
Os gritos em vão, ninguém vai ouvir
Deste lugar de onde eu nunca vou sair

Se havia mais que isso aqui
Há vinte anos eu já perdi
Tiraram de mim o sol da manhã
Levaram meu nome, mataram Valjean
Me atirando naquela prisão
Por um simples pedaço de pão

Mas mesmo assim, por que será?
Deixei tocar meu coração
Por esse homem que me chama
De irmão e me deu comida e cama

E me entregou nas mãos de Deus
Será por quê?
Só tenho ódio em meu olhar
E ódio é tudo o que me vê

Só vingança e rancor
Nesse meu coração!
Dessa vida eu só levo
Essa amarga lição!
Mas as palavras que ele diz
Despertam algo que eu não quis
Ele me fala em liberdade
Vergonha então me vem atormentar

Que alma julga que eu terei?
Eu já nem sei
Que sonhos hão de me assaltar?
Como é viver dentro da lei?

Eu procuro, mas perdi
E a noite que já vem
Os meus olhos, que verão?
Meus pecados, nada além

Eis que agora eu irei
Escapar de Jean Valjean
Jean Valjean que diga adeus
À nova história que já vem!