Claudio Botelho
I Never Do Anything Twice
Quando eu era mocinha
Faz muito tempo então
Um jovem capitão eu conheci
Que veio até meu quarto em meio à escuridão
Armado da pistola que eu senti

Primeiro tive medo
Confesso, até chorei
Depois foi quando quis "mais, por favor!"
Foi quando ele avisou:
"Meu bem, você passou
Pra mim só tem gosto o primeiro sabor

"Eu só faço uma vez
Eu só gosto uma vez
Uma vez é perfeito
Depois dá defeito
Depois não tem jeito"

Disse assim meu vilão
E eu guardei a lição
Não recuso freguês
Mas não faço nada outra vez

Ãhn-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã...
E então, eu lembro o dia
Na alcova de um barão
Gentil, quando o chicote me entregou
Pediu pra que eu brincasse
Sem dó nem compaixão
E então feito um bebê, ele berrou

Tremeu e fez espuma
Gemeu quando eu parei
E aí recomeçar foi que ele quis
Então me levantei
E assim lhe sussurrei:
"Que pena, querido, mas não faço bis

"Eu só faço uma vez
Eu só gosto uma vez
Sim, é doce o início
Depois já é vício
É só desperdício

"Não é bom repetir
Não faz bem recair
Eu não perco freguês
Mas não faço nada outra vez"

Ãhn-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã-ã...
E enfim, eu lembro o bispo
Que deu-me a comunhão
Depois marcou comigo no quintal
E fez-me uma proposta
Deixando em minhas mãos
Uns pregos, um martelo e um missal

E assim, deitamos ambos
Na cruz do Redentor
Até que eu perfurei o que ele quis
Então se ajoelhou
Por mais ele implorou
Foi quando eu rezei essa prece que diz:

"Eu só faço uma vez
Eu só gosto uma vez
Eu aceito a propina
Respeito a batina
Mas não a rotina

"Não adianta o latim
Não funciona pra mim
Não tem mais nem talvez
Eu não faço nada outra vez"

Eis aqui pra vocês
Meu melhor pra vocês
Em qualquer posição
Por diversão
Ou solidão
Tanto faz tanto fez
Mas eu não faço nada outra vez
Exceto...

Não, eu não faço nada outra vez