Com a idade adulta
Só nos faltam os pretextos
Para ter companhia
Há sempre uma falta
Como a esperança nos textos
Que dantes escrevia

Ninguém nos disse mas devemos parecer plenos
Proprietários de terrenos
E chefes de família
Com semblantes serenos
Por dentro somos pequenos
Somos parte da mobília

Talvez seja eu que não sei crescer
Quero sеr criança até morrer
Ter vontade dе cair e de correr
Pela estrada foi-se a fé no que há de ser

Com a idade adulta
Perde-se a novidade
E a solidão é costume
Há um pranto que exalta
O ritmo da cidade
Uma garrafa por queixume
Ninguém nos disse mas devemos parecer sãos
Exemplares cidadãos
Coniventes com o sistema
Com semblantes cinzentos
Que escondam bem os momentos
Tão diferentes do cinema

Talvez seja eu que não sei crescer
Posso ser criança até morrer
Ter vontade de cair e de correr
Pela estrada foi-se a fé no que há de ser