Bárbara Tinoco
Morada
Queres vir cá a casa
E nem o humor te salva
Se ficas cá a dormir

Tu és mais de bater asa
Não sou gaiola, sou morada
Podes vir pousar em mim

Nunca fui de muita gente
De ruas e ruínas
Dos copos e dos beijos sem conversa

Nunca fui só do momento
Das noites sem manhãs
Da vida que se vai e nunca espera

Sou mais de ler um livro
Perder-me nas palavras
Esquecer-me que a vida tem um chão

Sou mais de beber chá
Com dois copos, se quiseres
Sеremos ervas da mesma infusão

Quеres vir cá a casa
E nem o humor te salva
Se ficas cá a dormir
Tu és mais de bater asa
Não sou gaiola, sou morada
Podes vir pousar em mim

Sou a calma que regressa
A janela entreaberta
Com vista para o mar de uma canção

Sou o cheiro a primavera
O calor na barriga
A história que se conta grão a grão

Nunca fui de rodapés
Roda vira, roda vem
Sou mais para um felizes para sempre

Nunca fui de carapés
Sou mais comida da mãe
Num forna a lenha de um coração quente

Queres vir cá a casa
E nem o humor te salva
Se ficas cá a dormir

Tu és mais de bater asa
Não sou gaiola, sou morada
Podes vir pousar em mim
Não quero ser mais uma pedra no caminho
Se queres ir então vai, quando pousares serei teu ninho
Podes vir pousar em mim
Podes vir pousar em mim
Se pousares serei teu ninho
Podes vir pousar em mim