Zarco (PRT)
Feira das Memórias
[Verso 1]
Na feira dos sítios sem sorte
Reza a vida, reza a morte
Trocadas memórias sem dono
Esquecimento, abandono
As más, as boas, as certas
As profundas e as despertas
Aquelas que ninguém se esquece
É vendê-las em quermesse

[Verso 2]
Mirones procuram gordura
Os artistas, amargura
Turista regista o que engraça
Só no rolo é que o tempo não passa
Mendigos, senhores do retalho
Apodrecem no mesmo carvalho
Uns vendem pela brincadeira
Outros já só lembram a feira

[Verso 3]
Num banco a velhota
Organiza a gaveta
Na sua ampulheta
Não tem mais risota
Conversa da treta
Tem sempre um que a topa
Mas esta batota
Até troca um forreta
[Verso 4]
A lama e as tendas
Os gastos, revendas
São soro p’rá veia
De quem regateia
Os mitos e as lendas
Que a história semeia
Perdidos na teia
Das compras e vendas