​zé menos
Os ramos que eram braços
[Verso 1]
Aqui na terra um dia dá boa noite
E à noite dá-se o bom dia por abrir a vida
Isto porque a luz retira a desculpa
E o escuro obriga a arriscar e apaga a risca
Dos copos já sem bebida
Não é que eu não pense, eu vejo a linha mas sei
Que saber quando pisá-la é uma mais valia
E no fundo o escuro facilita
Nós não temos que ver tudo
Temos é tudo que ver com quem arrisca
Quando a gota da tristeza cai vira um mar
E é que o Zé também não sabe nadar
O “à deriva” já não é um estado
É onde eu tenho estado desde o dia em que aprendi a respirar
O peso de coisas pequenas aqui conta o dobro
No fundo é escolher entre ser um fardo ou um peso morto
No fundo o pesado e o mais leve no topo
Se não sei lidar com a falhar ou fico leve ou levo dor

[Refrão]
Ou ficas leve ou levas duro
Ou ficas leve ou levas duro
Ou ficas leve, ou ficas leve, ou ficas leve, ou levas
Ou ficas leve ou levas duro
Ou ficas leve ou levas duro
Tu aqui ou ficas leve ou ficas leve
Ou ficas leve ou levas duro
Tu aqui ou ficas leve ou ficas leve

[Verso 2]
Quando é que me vens dizer que eu nunca vou ser grande
Nem que tente tanto tornar-me num quadro
E se te perguntares porque é tão limpo o chão do parque
É porque em infante eu fingi ser árvore
Apanhei-as e larguei-as, eu fingi ser árvore
Tenho sonhos narcisistas em que vejo
A multidão a querer tocar-me por eu ser um ídolo
Mas eu prefiro testar os limites disto e arriscar ser ignorado
Do que banalidade e morrer um cobarde
Na verdade eu só faço por ser inevitável
É ser ousado ou ser usado, mas o meu ar é de arte
E criar só faz sentido para o não expectável
Logo o limite é nulo pela novidade
Pesquisa quantos prémios é que a Fonte deu ao Duchamp
Ou quantos pisaduras o Amadeo trouxe do Porto
Aqui a atitude é mais cão verde do Almada
Porque posso, porque tem de ser e porque me apetece, brother
Alérgico a lugares comuns e tento fugir de um
Podia parecer um gajo normal mas nunca fui como um
Há que assumir a diferença da cor das nossas folhas
Estou preso no Outono e vivo na estação que cora
Eu vivo na estação que cora
Eu vivo na estação que cora, eu vivo na estação que cora

Quando é que me vens dizer que nunca vou ser grande
Nem que tente tanto tornar-me num quadro
E se te perguntares porque é tão limpo o chão do parque
É porque em infante eu fingi ser árvore

Será que ainda vou a tempo de dizer que foi arte?
Certamente nunca me exprimi tanto
Estranho por pensar de lado, estranho por pensar de lado
Levantei-me na varanda do meu quarto e
Visto que a resma de papel matou as árvores
Decidi que a vou matar, eu decidi que a vou matar

Estiquei os ramos que eram braços e larguei-as
Tão diferentes que nem interessa serem feias
São brancas e estão a voar, são brancas e estão a voar
E antes da chegada da gente que me educa
O jardim da frente do prédio é só caducas
O Outono foi celebrado, o Outono foi celebrado
Virei a estação numa manhã de domingo e
Tudo o que em mim estava a berra estava comigo
Eu nunca mais soube arriscar, eu nunca mais soube arriscar
Será que ainda vou a tempo de dizer que foi arte
O dia em que eu fingi ser árvore?

O dia em que eu fingi ser árvore
O dia em que eu fingi ser árvore