Pedro Abrunhosa
Será
Será que ainda me resta tempo contigo
Ou já te levam balas de um qualquer inimigo
Será que soube dar-te tudo o que querias
Ou deixei-me morrer lento, no lento morrer dos dias
Será que fiz tudo que podia fazer
Ou fui mais um cobarde, não quis ver sofrer
Será que lá longe ainda o céu é azul
Ou já o negro cinzento confunde Norte com Sul
Será que a tua pele ainda é macia
Ou é a mão que me treme, sem ardor nem magia
Será que ainda te posso valer
Ou já a noite descobre a dor que encobre o prazer
Será que é de febre este fogo
Este grito cruel que da lebre faz lobo
Será que amanhã ainda existe para ti
Ou ao ver-te nos olhos te beijei e morri
Será que lá fora os carros passam ainda
Ou as estrelas caíram e qualquer sorte é bem-vinda
Será que a cidade ainda está como dantes
Ou cantam fantasmas e bailam gigantes
Será que o sol se põe do lado do mar
Ou a luz que me agarra é sombra de luar
Será que as casas cantam e as pedras do chão
Ou calou-se a montanha, rendeu-se o vulcão

Será que sabes que hoje é Domingo
Ou os dias não passam, são anjos caindo
Será que me consegues ouvir
Ou é tempo que pedes quando tentas sorrir
Será que sabes que te trago na voz
Que o teu mundo é o meu mundo e foi feito por nós
Será que te lembras da cor do olhar
Quando juntos a noite não quer acabar
Será que sentes esta mão que te agarra
Que te prende com a força do mar contra a barra
Será que consegues ouvir-me dizer
Que te amo tanto quanto noutro dia qualquer