Pedro Abrunhosa
É Preciso Ter Calma
Amor, essa palavra que me mata
Me corta (como uma faca)
Me deixa no chão, como um cão
Nu sem sossego, como o prazer que te nego
Dor, cativa, privada
Bruma que te cobre o corpo de fada
Sonho, distante na mente
E de repente, saber que se está só
É duro, é puro, o futuro
Sempre presente como o céu na tua frente
Pintado, queimado, vazio assumido
Um corpo triste despido
E uma mão que se estende
Depende de quem vier
E é mesmo assim que se quer
Longe ou perto
Tudo é deserto
Tudo é montanha que te arranha a alma
Com fúria, com calma
É preciso ter calma
Não dar o corpo pela alma
Vês o passado dorido, ferido
Agora tudo te é querido
Memória, vitória, não é esta a tua história
Voou a tua vida, perdida
Por entre os braços da SIDA
Mentira, roubada, pesada
Uma seringa trocada, um prazer, que agora é nada
Perdoa se não sei que fazer
Mas sei que deve doer
Dá-me o teu olhar e eu dou-te o meu amor
E o beijo urgente, premente
Esperança que não dorme, conforme
E dita o eu estar aqui
Amanhã, sei lá, para já o som da guitarra
Que me agarra, me prende, me solta
E a ti dá-te a volta, ao sorriso
Tem calma...