Pedro Abrunhosa
Silêncio
Silêncio é a palavra que habita, que palpita
Toda a música que faço
É a cidade onde aportam os navios
Cheios de sons, de distância, de cansaço
É esta rua onde despida a valentia
A cobardia se embriaga pelo aço
É o sórdido cinema onde penetro
E encoberto me devolvo ao teu regaço
É a luz que incendeia as minhas veias
Os fantasmas que se soltam no olhar
Que te acompanham nos lugares onde passeias
É o porto onde me perco a respirar
Silêncio são os gritos de mil gruas
E o som eterno das barcaças
Que chiando navegam pelas ruas
E dos rostos que se escondem nas vidraças

Quem me dera poder conhecer
Esse silêncio que trazes em ti
Quem me dera poder encontrar
O silêncio que fazes por mim

Pelo silêncio se mata
Por silêncio se morre
Tens o meu sangue nas veias
Será que é por mim que ele corre?