Clarice Falcão
Qualquer Negócio
Me deixa ser
Quem faz o laço
Da gravata
Do mordomo
Que te serve o jantar
Me deixa ser
O suporte que segura
A tela plana
Da sua sala
No lugar

Me deixa usar
O pé pra equilibrar
Aquela mesa bamba
Que você aposentou
Há mais de um mês
Me deixa ser
A sua estátua
De jardim
O seu cabide de casacos
Só não me tira de vez
Da sua casa

Eu posso ser a empregada
Da empregada
Da empregada
Da empregada
Do seu tio

Me deixa ser
O seu pingüim
De geladeira
Eu fico uma semana inteira
Sem mexer
Me deixa ser
O passarinho do relógio
Que de hora em hora
Pode aparecer
Pra eu te ver

Me deixa ser
Quem passa a calça
Que você precisa usar
No seu jantar
À luz de velas
Com alguém
Me deixa ser quem deixa
Vocês dois
De carro
Em um restaurante caro
Só não deixa eu ser ninguém
Na sua vida