Vitor Ramil
A Invenção do Olho
Não estive atado a Deus
No sonho de Moisés
A cabeça ardendo ao sol
Serpentes nos meus pés
Desejei de Homero a escuridão
Mas nas trevas me perdi
Fui então ao sol e o sol me fez
Um relógio de Dali
Esquecer depois lembrar
Os cheiros de um jardim
Muito aquém dos animais
Humano além de mim
Mas se estive mesmo atado a Deus
Tive os sonhos aos meus pés
A cabeça a pino sobre o sol
E as serpentes com Moisés
Hoje acho com razão
Que nada é bem assim
E essa razão, de onde vem?
A invenção do olho pôs
As coisas no lugar
Mundo posto me servi
A vida é meu jantar
Misturei ao tédio o amor cortês
Quando a musa bem me quis
Quando a sorte deu-me de beber
Dei um gole e fui feliz
Esquecer depois lembrar
Os cheiros de um jardim
Muito aquém dos animais
Humano além de mim
Se a invenção do olho nunca pôs
Cada coisa em seu lugar
Posto em vida ao mundo sem pedir
Fui servido no jantar
Hoje acho com razão
Que nada é bem assim
E essa razão, de onde vem?
No futuro espiarei
A vida ao revés
Feito isso escreverei
Que Deus sonhou Moisés