Vitor Ramil
Memória dos Bardos das Ramadas
Memória dos bardos das ramadas
Dos ilhéus, das violas lusitanas;
Memória das guitarras castelhanas
Em milongas, pericons e habaneras
Lembrança das cordeonas afanadas
Animando fandangos e guerrilhas;
Saudade das tiranas e quadrilhas
Nos sorongos, em noites estreladas
Tristeza das toadas missioneiras
Refletindo a angústia guarani!
Nostalgia do terço lau sus cri
Rezado ao pôr-do-sol, nas reduções
Fascínio das histórias fronteiriças
De caudilhos, duelos, entreveros!
Sensações de canchas, parelheiros
No aconchego noturno dos fogões!
Memória do negro pastoreio
Da boi-guaçu, das lendas extraviadas
Das salamancas, das furnas encantadas
Dos cerros bravos, lagoas e peraus...
Nobreza dos amores confessados
No floreio de endechas cavalheiras
Ao donaire das prendas e sesmeiras
Das vetustas estâncias, nos saraus
Memória da payadas quixotescas
De andarengos, malevas, chimarritas
Dos menestréis de trovas não escritas
Dos cancioneiros de romance e adaga!
Memória dum passado novelesco
Desse filão de motes e poesia
Donde gerou-se o estro e a galhardia
Do fidalgo verso gauchesco!