Diabo na Cruz
Heróis da Vila
Nada de novo no pai-nosso desta terra
Docs coladas aos estribos da acelera
Vamos ao Vouga beijar a ria
Festejar a maré vazia
Trazes mortalhas, eu a cassete dos Jesus
A viola, a litrosa, um caderno de anotar
É, se a sorte ajudar e a gente não se render
‘Inda acabamos a ser
Heróis da vila, estrelas do nada
Cavalos rebeldes no meio da picada
Com pouco mais pra fazer
Que escapar ou esmorecer
Cotas em filmes ausentes a divorciarem-se
Nós ao domingo, todos contentes na praia
A dedicar pose de artistas
Às namoradas dos surfistas
Cinquenta quilómetros contra o vento enquanto a noite cai
No prego, no prego
Que a lambreta não dá mais
Paramos na garagem pró teu pai não saber
Ensaiamos até amanhecer
Heróis da vila, estrelas do nada
Cavalos rebeldes em quem não se apostava
Com pouco mais pra fazer
Que escapar ou esmorecer
Heróis da vila em contos de fadas
Reféns improváveis da grande encruzilhada
Na corrida, em vias de saber
O que o mundo todo quer
Quero bem quero
Não quero que saibam
A quem eu quero
Bem como a ninguém
Do bem mais sincero
Meu querer bem-te-adoro
E nem por ti choro
Heróis da vila, estrelas do nada
Isolados de tudo, no centro da jogada
Rapazes com má reputação
Que ninguém sabe como são
Heróis da vila em contos de fadas
À noite, na praça, a cantar sem retirada
Vadios, esquisitos, perigosos, marginais
Não há na vila outros iguais
Heróis da vila, estrelas do nada
Cavalos rebeldes no meio da picada
Com pouco mais pra fazer
Que escapar ou esmorecer
Na roda de ilusões
Alvos que atraem o escárnio de gozões
Mas que um dia a vila haverá de receber
Como heróis que viu nascer