Vitorino
Tango do marido infiel numa pensão do beato
[Verso 1]
Sem tempo para ter tempo
De ter tempo de te dar
Um tempo que tu mereces
Prazeres em que tu morresses
Manhãs que não amanheces
E arrepios que estremeces

[Verso 2]
Na boca de te beijar
Fico sentado no quarto
Desta cama de pensão
Ausente, despido farto
Cansado dessas mulheres
Que ouvem sem me escutar

[Refrão]
Que me olham sem me ver
Que me amam sem saber
Que me roçam sem tocar
Que me abraçam sem paixão
Que ignoram que eu anoiteço
Que me ensombro ou que escureço

[Verso 3]
Que me enrugo e envelheço
Me pregueio e apodreço
E a quem pago o que me dão:
Uma espécie de ternura
Uma imitação do amor
Lençóis que são sepultura
De carícias sem doçura
E dos meus lábios sem cor
[Verso 4]
Ai dedos no meu cabelo
Quero a minha raiva toda
Quero domá-la e vencê-la
Quero vivê-la ao meu modo
Até encontrar por fim
Aquela voz de menino

[Outro]
Há tantos anos perdida
Há tanto tempo esquecida
Em soluços dissolvida
A gritar dentro de mim
A gritar dentro de mim
A gritar dentro de mim