VULTO.
Testamento
[Verso 1]
Escrevam na minha lápide
Que eu morri de crise apática
Amarelo na tez
Emotividade hepática
O verbo é siamês
Causa impacto de forma empática
Uma família de três
No sofá a olhar para a estática
Até que chegue a minha vez
Adopto uma atitude prática:
Conto os trocos
Vida após electrochoques
Sob hipnose psiquiátrica
Inteligência artificial
Que informação dramática!
Português?
Eu nasci num barco
Sou apátrida
Não me vês?
A tirar coelhos da cartola
Embebida em chuva ácida
Esta esmola paga a escola
O meu vicio é fazer sátira
Colo ventres como dracmas
Colam pálpebras
Em cadência rimática
Desequilíbrio à Jorge Palma
Charme decadente:
Fico triste a ver a Salma
Ser vencida pelo tempo
Flecha apontada à alma
Estrela carente e não cadente
Se eu espirro, causo o vento
Bate palmas, é talento
Bate palmas, é talento