Privatizaram o céu venderam a Terra
Encomendaram o véu mas ocultaram a guerra
Educaram, nunca disseram como realmente era
Este mundo tem picos a mais pa esfera
E enquanto metade espera outros querem passar à frente
Vivemos todos num quem me dera que isto fosse diferente
Andamos, de costas voltadas pro tempo
Porque custa a passar ou porque passa rapidamente
Estupidamente é difícil ver-te contente
Tento conter-me porque eu quero que dure pra sempre
Eu quero que haja água no furo como antigamente
Um bem haja a quem sempre subiu contra a corrente
Meu coração já não sente como sentia
Tenho impressão que o fumo já não bate como batia
Há uma linha que nos separa
Isto só para no dia em que a morte me vier buscar
Eu não desisto por cobardia
A vida são dois dias, eu ando na rotina aos anos
A minha filha é a causa e eu sem pausa para os planos
Temos metas, sonhos mas com a vida que levamos
Não vivemos, não passamos de estranhos para os que amamos
Andamos, cara trancada zangados com o nada
Nada se resolverá se a parada ‘tiver parada
Eu sempre fui à carga, meu rap é como um escape
Ligado em linha direta à realidade onde me adapto
O fardo que carrego quem sabe talvez fique mais leve
Talvez um milagre pague aquilo que a alma deve
Tentei um corte no azar a ver se a sorte me premeia
Aquilo que eu queria era tentar alimentar a alcateia
Longe da teia que rodeia e chicoteia o sistema
Onde eles pensam que qualquer algema bloqueia o problema
Boy aqui é sem regras boy
Algarve, Silves, Karma boy
Ver aquele enigma, nem com o tempo tu decifras
Vivo sem paradigmas no meio de almas perdidas
Vendidas, pela vontade de sonhar mais alto
Iludidas com dívidas, é foda largar o asfalto
Nunca saí daqui, nascido e criado no Algarve
Primos Alentejanos, manos em toda a parte
Mais que um sotaque, ou aquele sol que bate, ao final da tarde
Na janela do meu quarto
É ficar de parte à espera que o inverno passe
Chegar ao verão e nem para o cagalhão do cão haver espaço
É, dormir no terraço acordar às 7 da manhã
Sentir o compasso da vida numa mistura afegã
Não troco a vista da Fóia, o cheiro que a serra tem
Na costa as marés vivas não impressionam ninguém
Eu vou e venho dedico horas a afinar o engenho
Provenho de um meio pequeno, nem médico de família tenho
Cromossoma poético, se chegar lá foi por mérito
Sem esse amor sintético, sem esse amor cético
Criaram um círculo, ridículo e patético
Será que também dá para gravar um álbum a crédito?