Chico Buarque
Comédia de Enganos
[Verso 1: Vinícius Calderoni]
Antes é mais distante do que ontem
Tá mais pra longe do que perto
Repare o tempo está encoberto
Com nevoeiros e fuligem
E mais camadas de vertigem
Expressas em forma de dilema
Pois se olhar bem o tempo é cobra
Mordendo o próprio rabo, é obra
Mas em progresso e não do acaso
[Verso 2: Leo Bianchini]
Hoje é um enigma que está posto
Moto perpétuo sem descanso
Na soma dos recuos e avanços
E noves fora algum desgosto
Sеntimos pr'onde sopra o vento
E achamos o fio da meada
Pois, vеja bem, a vida urge
Mais do que nunca e logo surge
Uma esperança e uma toada
[Verso 3: Tó Brandileone]
Eles, nossos antepassados, vivem
Imersos em nossas jornadas
Nos objetos, nas piadas
Se manifestam em nossos gestos
Assistem sem pagar ingresso
Nossa comédia de enganos
Porque é eterno esse retorno
O novo é o velho, o velho é o novo
Cão ladra e a caravana passa
[Interlúdio instrumental]
[Verso 1: Pedro Viáfora]
Antes é mais distante do que ontem
Tá mais pra longe do que perto
Repare o tempo está encoberto
Com nevoeiros e fuligem
E mais camadas de vertigem
Expressas em forma de dilema
Pois se olhar bem o tempo é cobra
Mordendo o próprio rabo, é obra
Mas em progresso e não do acaso
[Verso 2: Pedro Altério]
Hoje é um enigma que está posto
Moto perpétuo sem descanso
Na soma dos recuos e avanços
E noves fora algum desgosto
Sentimos pr'onde sopra o vento
E achamos o fio da meada
Pois, veja bem, a vida urge
Mais do que nunca e logo surge
Uma esperança e uma toada
[Verso 3: Chico Buarque]
Eles, nossos antepassados, vivem
Imersos em nossas jornadas
Nos objetos, nas piadas
Se manifestam em nossos gestos
Assistem sem pagar ingresso
Nossa comédia de enganos
Porque é eterno esse retorno
O novo é o velho, o velho é o novo
Cão ladra e a caravana passa