Genius Brasil
Brisa Flow, ‘Free Abya Yala’ (Análise)
Há poucos dias assisti o documentário da era 'cool' de Miles Davis, tratando principalmente do período em torno da gravação do álbum 'Birth of The Cool,'—que só foi lançado em 1957, 8 anos depois do início das gravações—e mostra a convulsão que foi a produção dessa obra e o entorno, que se assemelham, dos grandes artistas de jazz da época. Os estilos não são necessariamente semelhantes, mas o que me intriga sempre é esse processo de criação, e aqui temos um belo exemplo da criatividade e virtuosismo que o gênero desenvolve por todas essas décadas. Ornette Coleman deu frente a um dos métodos mais originais de criação lá em 1961 com o sugestivo 'Free Jazz,' fonte da qual Brisa e toda a banda bebeu, intencionalmente ou não. Os versos todos criados de forma improvisada e livre tratam dos assuntos que vimos ela sempre reforçar. Espiritualidade, raízes, racismo, natureza tem na artista devida e relevante visibilidade, além de um olhar pessoal honesto e belo. Temos uma guinada pra uma musicalidade bastante diferente de seu trabalho anterior, e isso mostra a grandeza de ser um artista, aberto a mudanças, ideias, experimentos, texturas. O álbum é um grande laboratório, e como um bom, foi produzido um incrível material, algo que salutamos à nossa música. Imprescindível esse esforço, originalidade e vividez, mostrando a necessidade de sempre estarmos ávidos e instigados ao novo, ao próprio, à ventura. É disso que a música necessita sempre. Ouvi o registro com admiração e gratidão, pois é isso que devemos à arte.—igor frança