[Intro]
Denuncio como Barbosa, tenho um sonho: sou Luther King
Agrido como Malcolm e se preciso Ali no ringue
Vou pro exílio: sou Mandela, igual Zumbi supero o flagelo
Cada barraco da favela eu quero ver virar um castelo
[Verso 1]
"Cê" ja vira suspeito se é preto e sai de casa
Tem sempre que dar um jeito, senão pro trampo atrasa
Tinha que ser (nóiz)! Como seria se não fosse?
Quer comprar e no farol só pode vender o doce
Eles são como caçadores querem matar Panteras
A nossa hora chega, espera, muda de atmosfera
Enquanto dizem que vivemos em novas eras
Quimeras de Quilombos, agimos como feras
[Ponte]
Pretos reinam com pentes finos, pretas com pentes quentes
Favela queima e eles teimam em dizer que foi acidente
Nossa primavera não é boa, 'cê quer saber o porquê?
Temos mais flores nas coroas e muito menos em bouquets
[Verso 2]
Vemos Kendricks, Hendrix, da Barra-Funda a Sé
Só pensando se terão um tênis que caiba no pé
Voltamos como Fênix, baseados na fé
Obá, Nagô, Axé, Miles Davis no candomblé
Bezerras, Xicas da Silva, nessa relva
Queremos mais Rosa Parks nessa selva
Angela Brown, Afrika Bambaataa, norte a sul
Saímos do ABC, nossa nação é Zulu
[Ponte]
Não se prenda a limites que te impõem, vive
O sonho de todo preto é ser Morgan, homem livre
O breu nos cerca e sem ver a luz do dia
Enclausurados? A nossa companhia é a CIA
[Verso 3]
São Quitérias, Olérias, Valérias e quantas Glórias Marias
Artérias, histórias, sem férias, mães se sustentam por dia
Tomamos Washington: Obama e Denzel
MCs são Racionais na Realidade Cruel
Sai do léu, do breu, criou raíz e nova vida
Gosto do fel, mas candidatou-se ao cargo
Na nossa pele demora a cicatriz da ferida
Não vende mais doce e deixou sentir o gosto amargo
[Outro]
Não temos posse, mas somos possuídos
Por forças maiores que nos guiam por bons fluídos
Meninos precoces, já tão evoluídos
Mães e filhos gritam alto, mas não são ouvidos
[Scratches/Colagens]