[Verso]
O crack poca no centro
Sujo minhas mãos de tinta
Vejo o mal e me concentro
Enquanto grafito vida
Perceba a energia, sinta
Amor não se apaga, se pinta
Abrace o vento, deite na água
Sinta dentro da sua alma
Seja o exemplo que você tanto procurava
Sem arrependimento, solte suas amarras
Liberdade é a leveza de pode sentir sem mentir
Fluir, emergir assim
Um oceano de sentidos
O sexto é o mínimo
Eu tenho deja vú de uma cena de tiros que nunca vi
Me levem daqui
Sento no chão, tenho outra alucinação
Presença dos irmãos que não tão mais nessa gestão
E esse ciclo nunca vai ter um fim
Quero mesmo um jardim
Animais tão leais
Humanos se matam por reais
Eu mato por quem mataria por mim
Falta oportunidade, igualdade é um golpe de marketing
Monopólio de 2%, 98% no sustento
Médico no SUS nunca tá tendo
Tá batendo
So se for na Santana
Aqui não tem seu medicamento, dona Ana
Vão começar a vender carne humana no supermarket
Açoites a luz do dia se tornam entretenimento
Não é mais só negro, é o pobre drama
Levanta, bebe um caldo de cana
Vou fazer um som na praia
No escritório da minha laía
É o mangue
Nascido na lama
Corpo são, mente insana
As fissuras na calçada amanheceram minando sangue
Acordei com vozes me dizendo que o mal do mundo tem nome
É a fome
O que sobra pra poucos falta pros que só tem um sobrenome
Na lata quantos pereceram
[Ponte]
Escrevo mais do que devo
E esse acervo me traz pra perto de seus medos
Percebo procurando livros de poesia em sebos
Augusto dos Anjos rimou isso aqui mais cedo
Escrevo mais do que devo
E esse acervo me traz pra perto de seus medos
Percebo procurando livros de poesia em sebos
Augusto dos Anjos rimou isso aqui mais cedo
Escrevo mais do que devo
E esse acervo me traz pra perto de seus medos
Percebo procurando livros de poesia em sebos
Augusto dos Anjos rimou isso aqui mais cedo
[Outro]
Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera
Somente a Ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te a lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera
Toma um fósforo, acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro
A mão que afaga é a mesma que apedreja
Se a alguém causa ainda pena a tua chaga
Apedreja essa mão vil que te afaga
Escarra nessa boca de que beija!