Gustavo Bertoni
Enterro
Veio, no meio da tarde clara
Do alto da montanha um barulho ensurdeceu
Do seio do céu, um grande dragão de lama
Olhando da janela Mariana entendeu que era o fim

A muralha cedeu
Corram para os montes, corram salvem suas vidas
Deixem tudo para trás, não haverá despedidas
Vi sucumbirem casas, carros
E a bandeira verde-amarela do erro revela
O enterro que o país inteiro vela

De cima do morro entendeu a dimensão da distopia
Se deixasse de olhar para frente simplesmente pararia
E lá de cima constatou, tudo o que conquistou acabou assim
Olhando da montanha Mariana entendeu que era o fim

A muralha cedeu
Corram para os montes, corram salvem suas vidas
Deixem tudo para trás, não haverá despedidas
Vale dos homens perversos
Ergue a bandeira do orgulho que a culpa condiz
Revela o valor que uma vida tem nesse país

Água laranja que enterra
O cheiro de ferro arranja o cortejo
E a lava que desce da serra
Desliza jantando o mundo que eu vejo

Berros e buzinas gritos fatais
Velhos e meninos, sinas iguais
Vida que então conhecemos acaba mais cedo
E o grito de medo ressoa o fim

A muralha cedeu
Corram para os montes, corram salvem suas vidas
Deixem tudo para trás, não haverá despedidas
Vale dos homens perversos
Ergue a bandeira do orgulho que a culpa condiz
Revela o valor que uma vida tem nesse país