Nando Reis
Água-viva
Não estamos sós
Só sempre sozinhos
Ser é ser um só
Somos se sentimos

Água mata a sede
Feltro, asfalto líquido
Vidro sobre peixe
Chão, inverso piso
Ilumina a esmo
Breu do infinito
Rio sem margem e peso
Mar, o lar do pingo

Não estamos sós
Somente sozinhos
Ser é ser um só
Somos se sentimos

Água-viva queima
Vendo o invisível
Perto, escorre lenta
Beira sem perímetro
Liso, reto, crespo
Áspero ladrilho
Quieto azulejo
Barco do ar, profundo
Não estamos sós
Só sempre sozinhos
Ser é ser um só
Somos o que sentimos