Thiago Elniño
A Cidade e o Movimento
[Verso 1: Thiago Elniño]
Seis da tarde, ir pra casa não vai rolar
Eu tô no centro, aquela mina para pegar
Eu vou ligar: "Alô, ô pretinha como cê tá?"
"Tô de bobeira", "Então, demoro a gente colar"
As sete horas maleta eu te encontro
Na Augusto de Lima com Espírito Santo
Nos dois naquele ponto, ideia vai, ideia vem
Que tal nos dois no mesmo canto e mais ninguém? Bang, bang!
Sessenta conto, duas horas é o bastante
Depois eu pego o meu busão e sigo adiante
Do centro para borda, onde a cidade dorme tarde e cedo acorda
Cotidiano periférico é foda
Caralho, o que que tá se havendo
Os bares tão fechando, as pessoas tão correndo
Meu vizinho caído no chão sangrando
E outro menor da idade dele atirando
[Verso 2: Thiago Elniño]
Que chore a mãe dele primeiro, foi por respeito e não dinheiro
Mexeu com a minha mina eu larguei dois, sai ligeiro
Filho da puta, talarico, ta achando o que?
Que só por que era da boca podia fazer?
O que quisesse, mediu minha febre, e se fudeu
Entrou no meu caminho teve o que mereceu
Irmão a gente cresceu junto
Jogamos bola ali no Flameguinho quando eu morava nos conjunto
Habitacional da Leste
Dizem que não tem ninguém que tenha vindo daquele lugar que preste
Preconceito, minha família mora toda lá
E agora, que que meus coroa vão pensar?
O filho deles nunca foi bandido não
Só que mano a questão era manter minha honra
Agora é treva e sombra, por que hoje eu
Entendi que só mata quem já morreu
Entendi que só mata quem já morreu
Entendi que só mata quem já morreu
[Verso 3: Flavio SantoRua]
Filho de mãe solteira fadado a vender bagulho
Sempre o mais feio da festa nenhum motivo de orgulho
Carregando na alma toneladas de entulho
Com menos de dez anos eu vi cabeças no embrulho
Tudo ao meu redor era esgoto a céu aberto
Droga, miséria, arma e o futuro incerto
Desse lado de cá tudo é cômico
Os moleques se apaixonam pelos caixas eletrônicos
Na frente da tela os olhos brilham são vidas
Para dar rolê no morro com novo tênis adidas
Só conheci o ódio irmão, pai, nem mãe, nem vô
Só tive vó, que o tempo já levou
A escolas me entupiram com imagens de rancor
Disse para eu não ter orgulho de quem tem minha cor
Venha me salvar destruindo essa maldade
Quero beijar em bocas que gritem liberdade