Luís Severo
Casal do Chapim
[Verso 1]
Ainda te lembras da navalha
Que encontramos escondida no canteiro
Tinha sangue e sinais de batalha
E ninguém busca do seu paradeiro

Tu limpaste a misteriosa navalha
E guardaste-a na algibeira
Tal achado só a nós nos calha
Prosseguiu a tarde soalheira

E nas primeiras viagens de autocarro
Ficávamos sempre nos bancos da frente
Temendo pela nossa indumentária
Respirando a tensão que havia patente

Telemóvel escondido na mochila
Conversas de genes arbitrárias
Temendo os grandes que esperavam na fila
Da paragem da escola secundária

[Refrão]
É que o passado mais vergonhoso, não é o meu nem é o teu!
É que o passado mais vergonhoso, não é o meu nem é o teu!

Não é o passado que passámos juntos!
É sim o passado de nós todos juntos!
E o passado que não passámos, todos juntos!

[Verso 2]
E quando ensaiávamos a banda
Que achávamos vir a vingar mais pra frente
Nisto dos covers a guitarra é que manda
Numa garagem de som decadente

E quando viamos Lisboa à distância
De um subúrbio sem metro e sem arte
Trocávamos tudo em qualquer instância
Por festas de anos no Odivelas Parque

E quando eu era todo insurrecto
E faltava às aulas para ir comer pizza
Ou quando jogava à bola na rua
E fazia da roupa postes de baliza

Ouvi, assim, um coice certeiro
E palavroes à boca desarmada
A fugir eu era sempre o primeiro
Quando o empate finava a pancada

[Refrão]
É que o passado mais vergonhoso, não é o meu nem é o teu!
É que o passado mais vergonhoso, não é o meu nem é o teu!

Não é o passado que passámos juntos!
É sim o passado de nós todos juntos!
E o passado que não passámos, todos juntos!