Eduardo Taddeo
Os Cravos do Holocausto
[Verso 1]
É quente, atiro na testa se a vítima reagir
Mas não ergo campo de concentração pra me divertir
Somos até capazes de decretar um rival
Mas nunca investimos em analfabetismo funcional
No pântano sórdido da atmosfera mesquinha
Somos os cravos indefesos em meio as ervas daninhas
Não quero ter galpões fétidos como a Nike
Pra escravizar os rejeitados da sociedade
Nem navegar nas gôndolas de Veneza
Patrocinado por pratos vazios sobre as mesas
Mesmo estando no Repórter Record estereotipado
Não simbolizo o mau que deve ser extirpado
É no clube de campo e cavalgando na hípica
Que tão os que atendem a Escala Hare de psicopatia
Os que nos fazem deixar cabeça em frente de delegacia
Pra mandar ameaça subliminar pra polícia
Favelado não criou a ONU, o Banco Mundial
Nunca dizimou pra fazer propaganda de arsenal
Jamais vestimos túnicas pra caçar um membro de outra etnia pra linchar e enforcar
Armas biológicas e químicas não são obras do morro
A genética da tirania vem do berço de ouro
No juízo final eu posso garantir
Que não é nosso rosto que Deus vai cuspir

[Refrão (x2)]
Mesmo retalhando bases de moto e furador
Não temos 1% da maldade do opressor
Na paisagem militar com escolta e blindado
Somos os cravos que florescem em meio ao holocausto

[Verso 2]
Sequestramos menos que o mercador na África
Carbonizamos menos que as fogueiras sagradas
Roubamos menos que os clientes dos carros fortes
Não temos 1% dos homicídios dos esquadrões da morte
Na lista dos maiores ditadores da Terra
Não li um nome saído dos becos da favela
Pode quebrar o nosso sigilo bancário
Não tem fortuna feita com câncer e feto mal formado
Não respondemos pelos crimes da indústria tabagista, farmacêutica, alcoólica, televisiva, armamentista
Ocupamos os bondes do 157 e transferências
Porque não fomos convidados pras feiras de ciência
Pela indução diária a trilha dos ParaFAL
Em vez de pena, merecíamos perdão judicial
É hediondo por no roll dos reeducando
Os que foram expulsos dos livros de formandos
Somos os menos responsáveis pelos corpos no tambor
Repletos de cal pra afastar farejador
Não fomos nós que colocamos a barbárie no dicionário
Nem as negociações pra rendição no vocabulário
Antes de enforcarmos com o cinto de segurança
Já tinham feito check-in pra Dubai via carne humana
Antes do Masp ficar sem Portinari e Picasso
Já tinham nos feito chamar de lar um pedaço de plástico

[Refrão (x2)]
Mesmo retalhando bases de moto e furador
Não temos 1% da maldade do opressor
Na paisagem militar com escolta e blindado
Somos os cravos que florescem em meio ao holocausto

[Verso 3]
O engenheiro que põem no gol fundo pra droga
Foi formado pelo endinheirado patriota na Copa
Por trás do AK no gueto, um fator social
Por trás da Montblanc, um Jason real
Que só por transformar estuprador em descobridor
Merecia sufocar enrolado num cobertor
Ser dispensado dentro de um caminhão de lixo pra ser esmagado ainda vivo
Numa evolução correta era nóis de Cherokee
E os insetos da burguesia com a massa de polir
Quando não exercitamos a nossa autoestima
E escória nos equipara a chave inglesa e bobina
Também me senti inferior olhando vitrine
Namorando os bagulhos que só podia ter no crime
Mudei quando vi a trama dos reis do camarote
Que brindam nossa morte com Crystal e Ciroc
Que são imunes a processo e ação de polícia
Mas não a munição gangsta da minha rima
Deixei de beber no cálice da submissão
Pra ser o ativista que ataca Saddams com um mic na mão
Quem tem coragem pra desejar Primaveras Árabes
E temporadas de facões pra tiranos covardes?
Que tem coragem pra afirmar que os cravos do holocausto
Comparados aos playboys são bebês no berçário?

[Refrão (x2)]
Mesmo retalhando bases de moto e furador
Não temos 1% da maldade do opressor
Na paisagem militar com escolta e blindado
Somos os cravos que florescem em meio ao holocausto