Nego E
Mata Hari
[INTRODUÇÃO]

Aqui sou Mata Hari, me disseram que esse nome significa Luz do Dia, gostei, porque durante o dia é quando sinto que posso ser eu
Aqui eu tenho que ser feliz, na verdade tenho que me mostrar feliz todo o tempo
Falsos sorrisos, falsos gemidos, falsos prazeres e ilusões...mas as notas, as notas são reais
Pra aguentar essa realidade eu tento fugir o máximo dela, pra poder chegar, sustentar meu filho e se for preciso derramar mais lágrimas
Pra ver ele com um sorriso no rosto eu não vou medir esforços

O futuro? Eu nunca penso no futuro...

[PARTE I]

Pó branco, cocaína com talco
O nariz entupido, sem saber se era morfina ou álcool
No banco de trás de um Chevette velho borrou o batom vermelho
No pau de um velho chamado Falcon

Dias difíceis, bordel e hidro
Uma fagulha vivia entre agulhas e cacos de vidro
Brilha em palco de boates sem alvará
10 da manhã sem máscara sonha com quem a salvará

Saravá, todo dia ela faz sua reza
Com destreza se protege, mulher que se preza
Seu ritual: Olhos fechados e perna aberta
Predadora não presa, mas ela nunca tá liberta

Sai ilesa de mais um, nada contra a correnteza
Despertador toca, faz com que ela não esqueça
Mais um dia de trampo, retoca a falsa beleza
Você é linda mulher, levanta sua cabeça

[REFRÃO]

Mata Hari, vivia onde matar não é raro
Um tiro, um disparo (2x)
Mata Hari, ser você mesma custa caro
Um tiro, um disparo (2x)

[PARTE II]

Cuida do filho, um trago, aguenta, precisa
Toma tapa e afago sem vontade sob efeito da brisa
Ela passa e os problemas ficam
Vai pra caça, abutres bicam

Estica mais uma carreira, vida revogada
Esquece sua carreira como advogada
Aqui não tem juíz, todos tem culpa
Aqui jaz, sem jazz, réus sem desculpa

Terapêuticos, o cachimbo e a luz da lua
Busca remédios com farmacêuticos da rua
Sem receita, sem bula, ela burla leis
Se ajeita, hoje tem cliente às seis

Mais dias e pã, mais Diazepam
Seu filho vê Lex Luthor e ela só Lexotan
Em meio a ácidos, lança, éter
Flácidos e fétidos a espera de um cateter

[REFRÃO]


[PONTE]

Mais uma pílula, dilatou sua pupila
Partícula, num quarto particular
Rotina dessa heroína, viver na alta cúpula
Arrepio na medula à jugular (2x)

[PARTE III]

Último tiro, último disparo
Último suspiro, última chance de reparo
Ela pensou, uma, duas, três
Concluiu e se precisasse faria tudo outra vez

De pernas fechadas e os soldados vendados (ironia)
Dormiu com o pelotão que a fuzilaria
“Cuida bem do meu filho”, seu último desejo
Condenada a morte, se despediu com um beijo