DK 47
Depois da Festa
[Verso 1: Xará]
Sempre em ponto, 10 pràs 6:00 já é pra tá de pé
Ele sai do banho, esquenta o pão e água pro café
Pensa na vida em ordem, assim é: família, dinheiro
Se o alicerce é bom, ó prédio tá inteiro
Tem alma de pedreiro, malabarista urbano
Vai, valores verdadeiros, casa aqui não cai
Homem livre tipo eu, pecador
Busca na razão de ser a paz interior
Por que? Por que que eu não pedi perdão? Me diz: Pra que?
Se eu sei que eu nasci livre, é difícil de entender
Irmão, eu ando pela rua só dominando os cantos
Vou picotando as avenidas e o cinza contrastando
Vários perdendo a honra pra imperar nessa utopia
Penhora humana essa, a Caixa não avalia
Não sonha, mira no horizonte, não erra a pontaria
Segue firme que vira e vai clarear e bom dia

[Refrão: Nina Black]
Eu já brindei copos vazios, falsos sorrisos
E depois da festa eu chorei
Acreditei, eu me iludi
Eu já saí pra procurar
Um lugar onde eu pudesse descansar
Eu me cansei, mas consegui
[Verso 2]
Quantas vezes te mandam um rap contra a minha própria quadrilha?
Dar uma casa pra minha irmã? Dar conforto pra minha família?
Ser o exemplo pra minha filha? Muitos perguntam tiram minha paz
Se eu vou ser frente igual minha mãe ou me envolver no crime que nem o meu pai?
As vezes eu te peço perdão, é foda ter ódio pra fazer canção
Vida sofrida, o sistema obriga a fazer justiça com as próprias mãos
Esvazia é o seu coração, deixo na lisa, copo sempre cheio
Até entendo que a vida é passagem, mas nela eu não to pra ficar de passeio
Segue sorrindo o soldado ferido, não, não pode perder nosso flow
Que na praça de vida lotada a vida é dez minutos pros gols
Tendo pão, um arroz com feijão, antes de comer nóiz agradecia
Os problemas não vão derrubar quem foi criado à café com farinha
Pros que dividiram a fome agora nóiz vamo dividir um banquete
A gente não vive do rap, mas cada um de nóiz morreria pro ele
Fica triste quem tá com saudade, que minha alma jamais não doesse
Os que descansam na eternidade, a gente se encontra qualquer dia desses

[Refrão: Nina Black]

[Verso 3]
Eu também já parei só pra pensar se vale
Nada é massagem, nada é de graça, lhe interessam até no valor do Deus lhe pague
Eu não sou bobo, ninguém gosta e aceita viver com pouco
Eu também quero um Hilux, um Rolex, fartura pro morro
A corda aperta meu pescoço e toda verdade
Que que eu tenho de valor são minhas rimas de ódio e saudade
Sagacidade pra trabalhar e pagar o que come
Nunca fui playboy, mas sempre fui sujeito home
Eu posso dizer que eu aprendi a sobreviver
Onde a palavra vale a vida, e o filho chora e a mãe não vê
Dinheiro, carro, ouro, prata, nada disso salva
Todos morreremos e apodreceremos sós
Seu mundo não é sofrido como o meu
Nem tão valioso quanto o meu, você se esqueceu?
Não questione, faça, vai gaste seu dinheiro imundo
Enquanto tão ganancioso, eu fortaleço o meu conjunto
Menor traz lá do alto, agora ta correndo atrás
Já não só mais atraído pelos bem materiais
Mas eu prezo no miolo, honro a pele de crioulo
E se tiver contra os meus princípios não tem desenrolo
Poeta armado, pacífico, escravizado
Sou alvo das piadas do João Plenário
Bota cara você atrás da gravata
Pare um minuto pra ver o quanto tu mata
Eu sou a mancha de sangue no seu cenário de avareza
Tu fecha sua janela pra não ver nossa pobreza
Espírito de guerreiro, de justiça herdeiro
Da poesia de luta, de luta de sofredor brasileiro
[Refrão]