[Verso 1]
Assim se fez, assim se faz, aqui se criam homens
Leis das quais não são iguais pra todos sobrenomes
O esquema é viela em tempo de guerra não pode correr
Quando o couro come nasce indecisão, ódio no coração
Não deixa o medo vir puxar o bonde
Destrava as cromadas na cara, dispara no tiro toda sua ira
Não para, depara com a raiva, caminha com morte, não brinca com a vida
Não cospe no prato que come, não aponta o dedo, não paga com a língua
Da fome do beco, do berço, do terço, do preço do erro de toda mentira
Recorte sem sorte, repórter já quer minha morte pra fazer matéria
Como pode o X-9 dá o bote? Aqui nóiz explode todos os comédias
Quem morde é o rancor e vingança correndo com pressa pelas minhas artérias
Quem vem de onde eu vim, viveu o que eu vivi
Sofrimento é piada, inferno é férias
Não quero saber se ator é piada, jogador cheira, cantora é lésbica
Fiz zum-zum pra tocar coração, deixa o Teló tocar na Transamérica
O dinheiro faz Neymar bonito, Restart homem, cachorras histéricas
O bonde que eu fecho só fêmeas na loque, enfreta rottweiler, explode cerca elétrica
[Verso 2]
Se liga na saga, na rima, no rap modesto que agora eu te faço
Disposto pro tudo, pro nada, botando a cara menino fracasso
(Onde) Eu faço rap dar o clima dos meus relatos
(Onde) Eu faço verso contigo, com desabafos
Porque aqui o galo canta e o canto é forte
Eu to de black, é terno, é cap, o rap é meu suporte
Viu? Momento é intenso impõem minhas rimas tensas
Eu tô, tô cheio de ódio pra cobrar minhas desavenças
Mas busco a paz pras comunidades
Que nesse dia toca o rap alto underground
Que eu veja sorriso refletindo com o sol
E não um corpo coberto com um lençol
Porque vejo guerreiro na bike, piscina da laje virando concreto
Sua filha vadia do morro ontem a noite matou mais um feto
Balas perdidas invade o seu teto, cor aqui o certo é o certo
Só sei que vejo olho no olho e ainda sinto que o papo não é reto
[Refrão]
Assim se fez, assim se faz, assim se faz
Assim se fez, assim se faz, assim se faz
Assim se fez, assim se faz, assim se faz
[Verso 3]
Assim se fez, assim se faz pela paz e a liberdade
Aonde que ronca puxa o bonde, tem medo do frio que vem das grades
Se onde nóiz vive o medo não existe, nóiz não aceita tua trairagem
X-9 já brota, os cana da o bote, agora é hora de comprar os covarde
Pra todos os guia que vive em noite sombria cortando o beco e cidade
Conhece no olho quem é na família, sabe de longe quem vem com a maldade
O mundo lá fora me chama, levanto e então vou como eu posso
Me sinto soldado sozinho ferido lutando com vários que tão feio na foto
Desde menor já tava na pista, sempre mantive o plano formado
Eu não quis assalto milionário, nem toca na boca, nem andar armado
Mas era cachaça e o bar lotado da favela enchendo muito viciado
Sinuca, piranha e droga, mas fugi do crime pra arrumar um trabalho
Só faço a minha correria, me sobra um tempo pra rataria
Dou tudo de mim pra chegar no fim e eu não encontrar minha panela vazia
E a lei do mundo é dar voltas, curta, o mundo é pequeno
Vejo a porra dos verme dá o bote neles mesmo
[Verso 4]
A infância acabou mais cedo pra esse menor
Quando viu o que que tinha não era do bom
Mesmo assim ele ainda tinha que ser o melhor
Pra poder ter uma chance a mãe dele pediu, o coro comia
Sumia com o padrasto, responsável pelos maus tratos, que agonia
Vai moleque, corre pra onde ninguém te alcance
Pra escola meu material é pouco
Pra chegar aqui demora, esse cara querer me ensinar
B-BI-B-A-B, não vou usar isso no mundo sujo lá fora
Entre facas e garrafas de cana
Duro e cercado de grana
Bota a mão na peça e bota a cara na pista
Quase que o mundo me engana
Oportunidade e quase não tive
Só que favelado já conhece o mal
Se eu fui o alvo principal, um animal
Mesmo assim não fui tratado como tal
Barraco de madeira do fundo do quintal
Ideias biométricas
Frio, calculista, ser genial, sem matemática
Passem a se preocupar
Foda-se sua caridade, foda-se sua ética
To cansado esperar
O ar poluído que o morro respira
Me ensinou a não desesperar
Me ensinou a abrir a boca na hora certa
E a vivência na intermediação social
E assim se fez inimigo do estado
Herói das crianças, um poeta letal
[Refrão]