[Letra de "terra"]

[Verso 1: nastyfactor]
Mais um dia em que acordo às duas da tarde
Na verdade tou farto desta rotina
Ainda atordoado da noite passada
E com esta idade um boy não atina
Acordo cansado e até parece
Que arde memo lá dentro na retina
Quero bazar deste quarto
Já perdi demasiado tempo da minha vida
Então ponho-me a pé, recuperar esta manhã perdida
Qualquer dia tenho um enfarte ou uma coisa parecida
Vou tomar banho, tá na hora bela adormecida
Se eu bulir eu sei que a minha sina é mais que merecida
Então passo pelo espelho, “olha como é que eu estou mano”
Cabelo grande e barba grande, buraco no estômago
No frigorífico não há redon nem nada que se coma
Mas tenho moedas na bolsa para uma empada e tá bom mano
Calças de fato de treino todos os dias, esse é o meu uniforme
Nike com Nike, sem avarias hoje tou nos conformes
Vou passar no mini para matar uma das minhas fomes
E a outra mato no estúdio quando puser os phones
Pc na mala, chave do bote, acho que tou pronto para ir
Mas antes vou um beijo na minha avó, só para lhe dizer adeus
Vou para o estúdio, não sei quando volto
Mas relaxa venho dormir
Ela diz para não vir tarde, para ter cuidado e ir com Deus
Ahhh ir com deus? E se alguém diz isto de forma literal?
Afinal qual é a melhor maneira de ir com Cristo e encontrá-lo?
Então e se eu hoje tivesse um despiste daqueles que acabam mal?
Imaginei a família no funeral
Isto é a cabeça dum rapper criativo e um pouco lunático
A partir palavras na reta da granja em piloto automático
O estúdio é na zona mas pela A16 eu acho mais rápido
Poucas curvas e cruzamentos por isso acho muito mais prático
Ainda assim só burros ao volante, atrasos de vida ambulante
Só cartas da farinha amparo a ocupar o caminho que eu faço
Sem gente na estrada eu juro, era mais fácil
Chegava ao estúdio num instante
Porque na verdade não é assim tão distante
São 7 minutos sem ter que ir no aço
Chego à praceta do estúdio
E estaciono atrás de uma carrinha
Mas antes de ir pitar vou lá dentro deixar as minhas merdas
Para lá num cantinho
A caminho ainda vejo caras conhecidas
E fico a falar um pitz com a vizinha
Ou menos deu para apanhar uma beca de ar
E sentir esse sol a bater no focinho
No mini tou em casa, cliente diário, tudo à vontade
A rir com os funcionários
A senhora do café quer entrar num som
Para depois irmos dividir os numerários
Pego a minha empada a dizer
Que ela não ia aguentar os comentários
Porque há quem goste mas há haters otários
Conversa interrompida por gritos vários
Seguimos o som para ver do que se trata
Parece confusão no corredor das batatas
O suga não tá, é preciso ter lata
Porque ele deu de fuga memo na altura exata
É que são dois putos a bater numa cota
Que cena de merda, que situação chata
Vou ter que me meter ao barulho
Eu não posso deixar que esses putos lhe batam
Eu que sou bué calmo já tou bem nervoso
Tou a tremer por dentro mas não se nota
Super-herói, tive de agarrar num deles
Agora estamos no chão a dar cambalhotas
A medir forças eu fico por cima
Mas esqueci do outro que batia na cota
Percebi tarde que essa foi a derrota
Porque levei sete facadas nas costas

[Outro: Mariana Rebelo]
Bem vindo
A tua passagem pela terra terminou
Devido ao teu percurso
Não sabemos o que fazer contigo
Vou precisar de mais uns minutos
Para analisar o teu destino
Serás merecedor do céu
Ou do inferno?