benji price
Silêncios Desenhados
[Letra de "Silêncios Desenhados"]
[Verso 1: Orfeu]
Paro para ter a mente cintilante
Cativante enquanto estou ativo espanto
Propenso em gás propano por panos
Por pensar que consigo voar
Sem bater asas levanto
A contar um conto mal contado
Coitado, se vives nesta cidade
Profana escondida entre teias
De ciclos em meias voltas e notas que
Transportas o manuscrito
Transcrito das memórias infinitas
Que revisitas semana por semana
A iluminar o teu cântico semântico
E sempre que esperas que cante e te encante
No entanto o manto do som não te atrai, vais
Cais, perdido no meio da cinza dos banais mortais
Tentas sair ileso mas a saída ilude
Dilui a juventude mas só acabas preso
Se sucumbires ao peso da insanidade
Pára (paro) tenta (tento) estar (estar) atento
[Verso 2: benji price]
E analiso o que me rodeia
Ateio a cena e incendeio a sina sinistra
De quem me encandeia a visão
Semeio ideias e digo não
À ficção de ditadura que me dita a dura
Lição de vida, a desilusão de vida
A ilusão da canção da sirena que serena a intenção
De sair da escuridão e seguir a luz de Atena
Dou rumo à Odisseia e sinto a areia da arena
Porque acarto neste corpo o karma do cravo morto
Tecendo o combate nesta arte com ar de louco
Farto à parte do bate boca, faço pouco
Da gente demente que consente ser oca
Conhecimento doutra era hereticamente poética, estética
Bélica, quimera, helénica, Prometeu
Que prometeu a chama profética mas eu
[Verso 3: Singular]
Já não sei se esta vida vale a pena
Pesada que a justiça me entrega
De mão beijada por Judas
Cortada por negas internas
Entorno lágrimas raras
Prevejo mágoas que encaderno
Em tábulas rasas
Desisto de novos inícios
Farto dos velhos indícios
Fictícios, que me levam a melhor e me levam ao pior de mim
Pobrezinho, toma, oh sim
Bebe um gin, toma tinto e fode o sistema
Projeta o problema
No ócio sócio encena
O ódio óbvio e ascende ao pódio do ópio
Que aumenta o amor próprio
Vozes dizem por favor cospe-o
Remorsos vingam [sina?] dor
Encosto a cabeça e espero que a indiferença me esqueça a incerteza se decida se é vencida pela fraqueza
Entretida na subtileza de uma orgia alegórica
Alegria ilógica elogia-me e foge dela
[Verso 4: xtinto]
Estamos em agosto e já lá vai o suposto
O dito veredito que era teu
E eu não sei se fico não sei se parto
Este sítio não é meu
Vou embarcar numa viagem tal com Bartolomeu Dias
Dias a fio a fundo a viver noutro mundo
Que não é meu, sou mais um moribundo que nunca viu Deus
A hipnose, essa simbiose, pura metafísica
Sinope sinto que posso fazer nesta dura lírica
Aventura satírica, tortura vampírica
Sugo sangue da caneta até ficar sem tinta
Sujo páginas em branco
Com o cuspo de cada rima
Deixo lágrimas no pano
Tecido com a minha sina
Tem sido da minha vida
Bem vindo à minha doutrina
'Tou a dissecar o Midas em cada toque nas feridas
Esta merda é ancestral, 'tou a virar alquimista
Pela pedra filosofal, meu fado belicista
[Verso 5: Lobo]
Estou na crista desta sonoplastia
A expetativa de a ver rebentar algum dia
Divago na fantasia de uma carta que escrevo
Um vago e vasto epílogo aberto pelo tempo (tempo)
Vês que vou vivendo a vida
Vendo a vinda de uma doutrina que visa
Vendar-me a vista, findar a magia
Sinfonia que emerge de voz em sintonia
Poderia voar mas aqui estou no meu quarto
Passo neste quarto a passar tempo
Passatempo onde enquadro frases
Em quatro fases do compasso lento
Atento no esboço apagado onde esbato o passado
Enquadro num quadro pintado que guardo no lado
Direito do cérebro
Torto feito num oito
Este conceito quebro
Sim, assim vejo me a ser rei de mim mesmo
Enfim almejo um fim digno, assim seja
[Verso 6: DEZ]
Ando às voltas num tornado
Num copo de água entornado
Derramado pelo que me tenho tornado
Pano de mesa ensopado pelo vinho da vinha
Não convinha ter gostado
Mas a alma adora, agora tenho estado
Num estado embriagado
Afogado nas memórias do passado
Sozinho
Antes só vinho do que mal acompanhado
Tenho chamado por alguém sem
Cabeça dura e oca
Que não nade em cultura com touca
A voz vai tão alto que a dada altura fica rouca
A união faz a força mas com falsos faz a forca
Por isso que se foda
Prefiro 'tar só, só até virar pó
Pr'ó nariz dum profeta
À espera que ele disseque da minha mente
Sigo sempre em linha reta
O sol é a meta
Não tenham dó do poeta
Demente cinematografia na caligrafia sente
Janela indiscreta da mente
[Verso 7: Fella]
Por cada um de vós eu sinto
Só oiço a vossa voz de cruz ao peito no recinto
Ando faminto pela verdade mas só minto
Sou o criador do labirinto (afogo tudo no tinto)
Sem um tostão, em mortalhas e vícios
Os benefícios deste cabrão
Só para esquecer a saudade da irmandade e união
Só espero partir primeiro que o meu irmão
Mas se um dia eu for, se eu for eu vou
Ser todos os conselhos do meu avô
Julgo o presente pelo que sou
Por cada memória que o meu corpo guardou
Por cada história que o povo contou
O vento muda a trajectória porque o tempo abafou
(O vento muda a trajectória porque o tempo abafou)
Um bafo num filtro que o diabo enrolou
O pão é rijo mas não foi ele que o amassou