Uno Consultório
Melga e Morcego
[Verso 1: Uno]
Sombra até para quem conheço
Não conhecia nenhuma puta e hoje tudo tem um preço
Quem é que anda por aí?
Sou o filho menos rebelde
Aquele que menos quer e acaba a dormir em pé
Para amanhã acordar às tantas
Bulir, sair e gravar maquetes
A energia depende do que está aberto a estas horas
Deixem-me abastecer e fechem a loja
Sou filho da sorte
São 5 da noitе (isso existe?)
Sem saúdе porque o vosso brinde já foi
Mas é só mais um atraso
Geralmente estou desculpado
O que conta é estarem todos acordados
Circula com pouco gasto
Guarda os 40 da mucha e apanha Uber para o Carregado
Vampiros andam atentos aos teus movimentos
Quando a noite é uma criança sabem que a criança cresce
Não é cedo, mas murchas de cansaço
A natureza anda estranha para quem pensa em plantar
Hoje matei uma melga, que ela descanse em paz
Sou filho da noite e à noite fazem-se os animais dos mais chatos
Estou em contacto
A melga ouve o que eu vou rimar
Vivo sem muita confiança
Porque assim que puder ponho-me no teu lugar
[Refrão]
Perdido na noite mais escura
Não existe luz na rua
Sinto que a luz solar a minha alma já não fura
Podia ir lá para fora mas o espectro censura-me

[Verso 2: João Pestana]
Desliga o foco fecha a cortina pinta a parede sou filho da noite
A girar pela cidade com uma garrafa e uma foice
A mirar o horizonte dum campanário atento às baladas
E quando batem 12 então começam as caçadas
Bruxas enfeitiçadas, receitam conjuras endiabradas
Em capelas arruinadas
Abandonadas por pessoas que pela fé foram deixadas
A convivência com fantasmas
Acontece aos olhos de gente calma
Aldeões à volta da fogueira em conselho
Há profecias esta noite o céu está pintado de vermelho
Os gatos pretos foram esfolados
E há uma semana que ninguém se olha o espelho
Os insetos lutam para não serem esmagados primeiro
Então sem opção respiro escuridão
Sou réu do bréu, duma noite sem previsão de terminação
Já adaptei os olhos às formas do vazio sem razão
Agora adapto a tua alma
Às sombras do interior do caixão
És tu ou eu não? campeão?
Não devias sair de casa se não aguentas a pressão
À noite soltam -se os demónios e as filhas da aflição
São julgados os pecadores e a terra entra em renovação
Doutrinas e senhores são queimados a fogo posto
Só é salvo do renascer quem da escuridão é composto
Então o que dizem os meus olhos, a rotina traduz poço
Cai cospe na mão vomita a luz que consumiste ao almoço
Perde-te nos recantos da cidade que nunca foi inocente
E mata, todo o indiferente
Que tenta pregar a um morcego
Que isto não são horas de gente, burro
Sai da frente
[Refrão]
Perdido na noite mais escura
Não existe luz na rua
Sinto que a luz solar a minha alma já não fura
Podia ir lá para fora mas o espectro censura-me