[Intro: Uno]
[Verso 1: João Pestana]
Talvez peça desculpa por te interromper
Mas a comichão, de versos presos na garganta
Mete o meu corpo a estremecer
Quase que vomito quadras desenquadradas
Mas o urso hiberna e respeita o discurso do silêncio
Que se impôs na caverna
E sinto que se deviam ouvir vozes nas casas
Nas salas nos corredores nas camas nas estradas
Em terras perdidas e achadas na algibeira de alguma entidade
Que nos criou numa tarde entediada, somos nada
Por isso se esse é o cenário
Não quebres o silêncio
Se não for para dizer algo pega no mano do lado
E convence-o
Que há muito muito tempo
Que soam as mesmas vozes repetidas
E devido a esse cantar desafinado
É que as nossas casas estão vazias
Era isso que querias, toda a gente fala mas ninguém se ouve
Característico deste povo
Só deixam falar o sábio até de novo aparecer o bobo
Quebras a ausência da melodia com uma ainda mais vazia
Por isso mc's que discursam em vão são castigados em pleno dia
Não é que esteja a limitar-te, besberra-te se assim quiseres
Fala outra vez de noites e mulheres
Atrais o que disseres mas afastas o que queres
Segue a luz e escolhe o lado
Tás na sala do mundo a limpar fundos
Ou num mundo fútil manchado
Por isso se tens algo a dizer solta a tua voz que eu solto a minha
Ouvem.se urros de vitória ao subir esta colina
Claro que a oportunidade de ficar calado não caiu bem
Ao oportunista
Por isso eu grito-lhe na cara se é oportuno ser artista
[Refrão]
Ouve de novo é a paz do povo, calma da alma
Sangrar do topo , saio um segundo do barulho e penso
Como é coerente o discursar do silêncio
Vais ter de ouvir, o discursar do silencio
[Verso 2: Uno]
Nunca vais poder entrar no meu ouvido
E custa muito menos a ti do que a mim
Nasci mais difícil do que o meu caminho
Silêncio é de honra, até os animais se põem com intrigas
E se forem seres humanos são os que mais estimas
Da dor recebo a luz porque se abre uma ferida vazia
Até lá não era o maior mas parecia
Nunca saí da caixinha, deixei música a tocar e andei
Mas tanto faz ser pisado aqui ou pisado lá
Por isso bazem
Deixei-te confuso porque não tenho conselhos
Digo “Apenas reajam
Ofereçam frente, falem pouco
Diretamente façam por amor
Mas saibam que é impossível não tê-lo
Isto custou…
Para aqui a armar-me em padre e sou o pior deles todos
Eternamente a ouvir que tenho aqui um potencial
Ou seja, que não consegui realizá-lo
De vez em quando ainda pago para actuar…
Sh.. É segredo
Sei que no fundo o que faço é só silêncio disfarçado
Mas dou a cara e sacrifico-a, nada justifica
Podia estar calado, sei que um dia consigo
E apresento-te a versão corrigida de mim
Antes disso só vai adiantar finger
Quando eu morrer também vou querer um minute
Mas de barulho onde há silêncio e de silêncio onde há barulho
Carreguem o meu corpo
Sempre na paz mas pesado
Desejaram a morte uns aos outros
A minha boca foi o túmulo