Uno Consultório
Tempestade
[Verso 1: Vácuo]
Seis tempestades conjugadas numa só
É assim por estes lados, cospe-se a chuva que vira pó
Escarro a cinza, dá vida a uma voz
Todo o santo dia ou antes
O entre e o após
Quem somos nós?
Vivemos onde?
Tapam-te os olhos para viver o sonho
Escavam-te os ossos, limpam-te o corpo
Só para concluir que há muito que tu já estás morto
Vale o esforço no meio da tempestade
Em que temos estado encostados
E em que estado
Eu diria que a consulta é uma necessidade
Visto que mais nenhuma rеsulta
Acredito que assim dá
Uno e a sua unidadе
Unido a cidade toda
Dentro da mesma tempestade

[Verso 2: Benny B]
Se não controlas as aragens
Brother sabes bem que viram tufões
Depois procuras o que perdeste
Eu vi, só nuvens
Visão turva, na televisão, chuva (ácida)
Divisão telepática, não avisam, surgem
Eliminam muito facilmente
A tua mente frágil sente
Que o ácido tende a atuar muito rapidamente
E eu sempre trouxe um bocado do que há tempos oiço
No ambiente tempestuoso
Onde a paz de espírito se encontrou num ser viscoso
Sim meu bro, único como todos
Húmido depois molhou-se
Nesta selva sem calma
Pingas pingam salva de palmas
Imagina, o que a estala estala
A vida vinga-se
Assim que chegares a casa
Numa estala alta, a fala falta
Faço nuvens, névoa
Chuva, merda, tempestade
Macacos escondem-se, pássaros voam
Leões ouvem-se
Assim que ficares à toa
É assim cá na zona
Que o sol posto e os porcos só no posto
A perguntar
Eu sei que sabes da tempestade mas tens estado encostado
Relaxado a enrolar charros
Porque eu sei que hei de lá chegar
Me'mo debaixo de chuva
Ya acho que dá
A bafar umas p'ajudar
[Verso 3: Uno]
Não podes incendiar a chuva
Nunca duvides do Uno se a tua escolha é múltipla
Ou é tempestade no copo ou corpo no ciclo da nuvem
Na primeira hipótese dependes sempre do final da última
Bloqueio
Isto tudo vem de eu achar que gosto de dormir 3 horas por dia
Daqui nada sai como uma burra sem energia
Vou dar o que sobrar da minha
O karma vem e tu não te apercebes
Se ao menos ele falasse e dissesse os teus erros
Mas caga
O verdadeiro não é quem diz à tua frente
É mais quem diz que enquanto diz isso dizer-te é perda de tempo
Pensa um pouco mais à frente
A terra não é só gente
Não te adaptas como a água se tens a tempestade lá dentro
Vê como tratas o nada
Até isso tem valor
Porque tudo aquilo que não existe
Eu vou saber quem matou
É natureza morta, a certeza própria
Óbvio que não penso nisso e fico na loucura mais próxima

[Verso 4: Tilt]
Carrega-me em tábuas
Com um prego nas manápulas
Tempestade é grave
Para quem tem parado as águas
Prova o inevitável, lamentável mundo das máquinas
Como foi Atlântida, amanhã vão ser as fábricas
Gelo derrete, mar engole
Olho verte o sol
Não ilumina um verme do lodo
Quando inverte o polo
Não sabes a aprovação ao luxo do olho do furacão
Calma, ele não se envolve aqui no smog
É caos para quem sofre
Aplausos para quem vê
Apoia a iniciativa apocalíptica
Na ilusão da mímica
Lá porque não sais da caixa
Não quer dizer que ela exista
E que a tempestade de fora não te atinja
Eu tenho dito
Mantenho-me distinto
Sem emoções, sou frio
Já teve tinto na tempestade de um copo vazio
Poluição no meu rio
Há quem lá mergulhe
Há quem não se orgulhe do que sentiu
No meu loop doentio de julho
[Verso 5: Eliot]
Fúria fura como um furacão
Loucura não cura o coração
Tudo tem uma duração
E é por uma ou por outra
Mas tu tens sempre uma obsessão
Tu tens sempre uma opção
Tu tens sempre um senão
Tu não escolhes o que acontece
Tu só segues o guião
Arrastado pela corrente, já perdeste a direção
Tento seguir o contratempo como a chuva no verão
Todas as nuvens cairão e os que temem nunca irão
Eu já tentei o travão
Mas a vida não é a mesma sem trovão
De vez em quando, desencanto
Fica easy, mano
Enquanto eu vou dizimando
O que suspiras não me faz o mínimo dano
O que opinas não me diz respeito
Chora, incha mas não me desrespeita
Skate, enrolo a dica, e faço figas
Palavras são energia
E eu transformo-as em tempestades líricas

[Verso 6: Rott]
Ter a bala ao meu lado
Sem disparar, mano espanta-me
Todo o fala barato a alimentar o ramo, cansa-me
Tão vou ser um animal, um minotauro
Algo fala mais alto na tempestade
Concentrado de impacto relâmpago
Aliado à tempestade, num cântico ou ritual
Eu vou 'tar encostado no teu pânico, boy normal
E tu vais adormecer
Num âmbito habitual
Mas todo o pesadelo tem o seu crânio como alvo
Mente assustada do nada sofre emboscada
Mais fácil controlar a sã do que a chamuscada
'Tamos cá para a tempestade
Em que temos estado a ser doentes
Com conduta chanfrada, puta armada
Boy consulta foi marcada
Ultrapassada, aqui não custa nada
A gente ajusta a mente
A quem tende a tê-la vendada
Só essa é que me quer e eu quero é vê-la queimada
O resto que se foda
Para burros nunca dei nada
[Verso 7: Cevas]
Em pé, [está de?] viagem
Vai a Roma, pela boca
Tempestade com o que há de ser em fuga à queima roupa
Quando qualquer vida é louca por sentir o mesmo atrito
Conflito de ser um grito
Nunca descrito ou escrito
Eu permito a exceção aos que inibem a perceção
Na escuridão dum mundo cão por um ideal de destruição
É que não reparas na distração
Na tua devastação
És como o clima, acomodação
Consoante a estação
Ao passar da intempere
Apercebeste que todos temos dor
Na sequência que vem em série
Num ato só de sobrepor
O exagero por ter tremor de expor o pior do interior
Torna-se incolor pela cegueira
Uma raiva de dissabor
Um julgamento que é infinito
Por isso nem nisso persisto
Eu não desisto e visto o kispo
Nesse frio resisto
E se conquisto as minhas etapas
Sem tapas na fuças
Foi porque caí nessas escadas e levantei-me para as coisas