Gabriel, o Pensador
Homenagem às Crianças Vítimas da Violência no Rio
[Letra de "Homenagem às Crianças Vítimas da Violência no Rio", por Gabriel, o Pensador]

[Intro]
"Olha aí, ó, a bala aí, ó"
"E a tragédia no Rio"
"Mais um dia em que inocentes morreram"
"Eu tô destruída, moço"
"Depois de oito meses de reuniões"
"Finalmente o Governo do Estado divulgou o plano de segurança integrado com as Forças Federais"
"Torcer que a gente diminua esses índices"
"E mais uma criança baleada no Rio"
"Meu Deus! Esse é o nosso Rio de Janeiro"

[Verso]
Que tiro foi esse?
Não, não vou cair no chão, pelo menos agora
Eu também sou brincalhão, mas brincadeira tem hora
Lá fora, no meu Rio, cada vez mais gente chora
E cada vez mais gente boa tem vontade de ir embora
O Rio que a gente adora comemora o Carnaval
E a violência apavora, ou você acha normal?
A boca que explode, o silêncio do medo
O suspiro da morte banal
O lamento de um povo que implora
Por uma vitória do bem sobre o mal
Atenção: confusão, invasão
Tiroteio fechando a avenida outra vez
Muita bala voando e acertando
Até mesmo as crianças; às vezes, bebês
Criança, meu irmão, não é estatística, é gente
Alguém de verdade
Como a Emily Neves, menininha linda
De três aninhos de idade
Tentativa de assalto, dez tiros no carro
Não é uma fatalidade
Uma dúzia de flores num caixão pequeno
E um adeus no jardim da saudade
João Pedro, quatro anos
Seguia pra igreja com o pai e os irmãos, quarta-feira
Mas um tiro acertou suas costas
E encheu de tristeza uma família inteira
O Luis Miguel, de sete anos
Em casa, levantou pra pedir um copo d'água
Mas levou uma bala perdida
E deixou sua mãe toda ensanguentada
Meu surdo, parece absurdo
Mas muitos se fazem de surdos, conseguem
Confundem um fuzil com foguete
Escondem os defuntos debaixo do tapete e seguem
Covardes, as autoridades
Zombam da situação
Político esperto explora o medo
E qualquer sentimento da população
A violência estúpida afeta todo mundo
Menos esses vagabundos lá da cúpula
Corrupta, hipócrita e nojenta
Que alimenta essa guerra
E, da guerra, há muito tempo se alimenta
Se morre mais um assaltante ou assaltado, tanto faz
Pra eles, nós somos todos iguais
Operários, empresários e presidiários e policiais:
Nós somos os otários ideais
Será que alguém duvida
Que a fortuna da corrupção bem investida
Teria salvo dezenas, centenas, milhares, milhões de vidas?
Desde que eu me conheço por gente
E até muito antes, quantas mortes de inocente
Valem cada anel de brilhante?
Governantes dão mal exemplo
E os valores são invertidos
Se o desonesto é malandro
O menor também quer ser bandido
Alguns, né, a minoria
Mas não o bom Jeremias, que cresceu lá na Maré
Com fé e sabedoria
Lendo livros, jogando uma bola
Estudando violão e bateria
A mãe desmaiou no enterro
Você não desmaiaria?
Que força você teria pra enterrar o seu garoto?
Que forças ainda temos
Pra nos amar, uns aos outros?
E nos armar de indignação por justiça e educação
Pra que essas e outras crianças
Não tenham morrido em vão
Sofia, Maria Eduarda, Caíque, Fernanda
Arthur, Paulo Henrique, Renan
Eduardo, Vanessa, Vitor
Esses foram ano passado
Quem será que vai ser amanhã?