Gabriel, o Pensador
Sobrevivente
[Refrão]
Sangue pra sua sede
Ódio na sua rede
Seus ouvidos têm paredes
E as mentiras travam a sua visão
Tempos sombrios, peitos vazios
Você foi estrangulado quando o ar ficou pesado dentro do pulmão
Sopro de vida mal agradecida
Do parto à partida, nossa presença aqui devia ser uma missão
Se a vida é um sopro, eu abro a janela
Se o mar é de lama, eu uso as minhas velas
E busco a luz no fim da escuridão

[Verso 1]
Vou me libertar da escravidão da mente
Exalar o que é impuro do meu coração
Mas não quero a liberdade isoladamente
Liberdade vigiada é ilusão
A calamidade, a banalidade
A dignidade já ficou no chão
Chove impunidade
Quando a lama invade, morre uma cidade, morre uma nação

Anestesiados pelas novidades vistas pelo Insta ou na televisão
Nós compartilhamos nossa insensibilidade quando atrocidade vira diversão
O suicida estava prestes a pular
As pessoas se apressaram pra pegar o celular
As memórias estavam cheias e pediram pra esperar
"Por favor, não pule agora, nós queremos te filmar!"
Ele ouvindo lá de cima não entendia bem
E não reconheceu ninguém na rua
Mas achou que aquela gente lhe queria bem
E que aquela dor não era mais só sua
Desistiu de desistir, retomou a calma
E todos foram embora quando ele desceu
O silêncio aliviou a sua alma
E o milagre foi que nada aconteceu

Deus 'tava vendo um jogo lá no céu
Um anjo deu caneta e o outro deu chapéu
Não sei se era um menino do Flamengo ou qualquer outro adolescente da Rocinha, da Mangueira ou do Borel

Quantas mães em desespero choram nos seus travesseiros
Toda noite um pesadelo
Quantas mais farão apelos pela justiça divina
Já que a justiça não veio
Pânico, assalto, chacina, estupro, arrastão, tiroteio

[Ponte]
Pra eles não importa, gente viva ou gente morta
É tudo a mesma merda
Os velhos nas portas dos hospitais
Crianças mendigando nos sinais
Pra eles, nós somos todos iguais
Operários, empresários, presidiários e policiais
Nós somos os otários ideais
A paz é contra a lei e a lei é contra a paz
Essa tribo é atrasada demais
[Verso 2]
A morte é banal
Nos filmes, nos games, na vida real
Matar é normal
Na sala de aula em Suzano e na verba roubada por baixo dos panos

Preconceito racial, social
Intolerância religiosa, sexual
E os poderosos alimentam a ignorância que sustenta a sua ganância e tudo fica sempre igual

[Refrão]
Sangue pra sua sede
Ódio na sua rede
Seus ouvidos têm paredes
E as mentiras travam a sua visão
Tempos sombrios, peitos vazios
Você foi estrangulado quando o ar ficou pesado dentro do pulmão
Sopro de vida mal agradecida
Do parto à partida, nossa presença aqui devia ser uma missão
Se a vida é um sopro, eu abro a janela
Se o mar é de lama, eu uso as minhas velas
E busco a luz no fim da escuridão

[Saída]
Me libertei da escravidão da mente
Derrubei o muro que separa a gente
Professores são heróis diariamente
Obrigado por plantar essa semente
Na mudança do presente, eu moldo o futuro
Essa lama não vai ser maior que a gente
Vou em frente porque o meu amor é puro
É o abraço do bombeiro com o sobrevivente