Johnny Virtus
Como Se as Folhas Não Caíssem
[Letra de "Como Se as Folhas Não Caíssem" ft. Enigmacru]
[Scratch: DJ Crava]
([?] se não ficasses aí a sofrer no teu quarto?)
[Verso 1: Chek]
Enquanto piso folhas de outono na nossa rua, reflito
Recordo-me a correr naquela altura mas por mais que corra
Agora as folhas já são outras
Envelhecidas, rugosas, tal e qual as pessoas
Sempre simplificam o seu repouso sempre que pousam
Mas admito as falhas, antes alterasse as escolhas
Mermão eu sei que errei em tanta coisa
Sentimentos levam a discussões, ambos impercetíveis
Podemos ser do mesmo sangue mas não somos compatíveis
Um com o outro
Eu sei que me afastei a todos os níveis
Chutando as peças também tu fizeste o pouco
Quando ele pergunta por ti eu não respondo, apenas oiço
Só ai percebia o que sentia quando estava longe, (estava)
Só hoje, depois de todos os dias e noites
O arrependimento é como um espelho dessas sensações
Infelizmente esta fase traça outras implicações
Chamas-me à razão, nunca me chamaste por outras razões
Saí de casa, decidi não ter mais ligações
A única merda que partilho contigo são as acusações
Ações, levam-nos a diferentes direções
Atingem outras pessoas e outras dimensões
Pondero todas essas opções, no fundo não te procuro
Porque me encontro dividido entre os dois
[Verso 2: Minus]
Nunca faltou a casa ao vivo nem a cova ao morto
Assim dele acordo o corpo e visto ao costume
Aprisionado a acaso, endividar embaraços
De não ter uma base onde possa existir
Eu fiz cumprir a promessa e dividir o interesse
Que ambos os lados abraçavam ao almoço
No início todos podem, hoje sou eu que posso
Fui o homem que à casa cedo, o homem que à casa prende
Velhos hábitos demoram a sair
E acordam persistentes na vontade de existir
Sem que eu possa insistir, resolvi desistir do meu percurso
E ter antes um pai do que vir a ter um curso
Ao mau uso de uma escolha ao mau uso da inocência
Que penso em patrimónios longe de olhos de uma herança
A balança que pesa ao respeito e à família
O feito de uma escolha apaixonada pela guita
Eu quis ter o meu sossego sem empregos até às cinco
Com filhos atrás de mim crescendo sozinhos
E agora finjo, a independência que não tive e tenho
Num fim que mantive empenho só para vir morrer aqui
Oferecido ao destino sem importância, a bonança
Que trouxe a tempestade atrás da minha esperança
Enquanto o tempo avança e já não espera por mim
Eu vi nos teus de olhos de criança a sentença que eu escolhi
Eu quis mentir, e planear um fim anunciado
Que encaixasse ou que me deixasse livre na tua idade
Velhos são os trapos com contratos até à morte
Condenados ao acaso de não ter sorte
E se por acaso o contrário me vier procurar
O que é que eu faço sem estofo morto por te abandonar
Já nem companhia sobra, somos restos do fracasso
Vai o pai, vão-se os filhos
Até que a cova nos separe
[Verso 3: Each]
Larguem-me os braços, quem são estes estranhos
Olho para todo o lado mas não me pareço
Encontrar no meu quarto
Esfregam-me o dorso mas foda-se
Quem são estes gajos para me despirem
Como é que eu pude chegar a este ponto
De nem conseguir torcer o pescoço?
Enquanto dou ordens ao meu corpo que nem eu
Consigo ouvir porque 'tou fraco até para combater o sono
Os pesadelos assustam-me...
Simplesmente porque acabam e não porque duram
Imagino o céu para além do teto, eu dava quase tudo
Embora aquilo que me reste não seja muito
Tenho saudades dos meus filhos, algo que não é mútuo
Passamos horas sentados em silêncio sem haver assunto
O resto do tempo é taciturno
Sem ver pessoas exeto na mudança de turno
Alguém me fale enquanto eu durmo mas o esforço é nulo
Por não falar das minhas coisas
Como se eu 'tivesse morto ou fosse surdo
Envergonha-me saber que tudo o que vos deixo é tão pouco
Ou tanto quanto baste para vos afastar um do outro
Não pensem que não vos ouço só porque não vos respondo
Quando a minha voz é abafada pelo bater do meu pulso
É difícil gerir o impulso de não fazer o que
Penso porque não me mexo mesmo quando consigo
Por mim 'tava em casa ainda que 'tivesse sozinho
Contudo 'tou preso em paredes pagas pelo meu próprio guito
Eu nem conheço quem me troca a cama
Com se eu não sentisse o seu desprezo
Pessoa era apenas ultrapassada por mim mesmo
Hoje ainda continuo vivo mas desisti ao tempo
Trocando o vosso sossego pelo meu sofrimento
(continuo a pensar, será que fiz tudo...)