Johnny Virtus
Post Scriptum
[Verso 1]
Ponto. Muda de parágrafo. Podia ser ditado
Mas não há linha para mudar quando se escreve tudo errado
Muito não justifica o facto de não teres vindo
Mas a vida não passa da expressão do vamos indo
Não há fumo de palco, cartas ou acrobacias
Nem o truque escondido no chapéu do ilusionista
Olhar para cima é longe, apenas isso o que se vê
Enquanto vertigem é o medo de voltar ao que nos fez
Não me explico quando não cuido do que quis e tenho
O meu amor é uma folha amassada do meu melhor desenho
Alguns dias são rascunhos, basta conhecê-los
E quanto mais escuros forem faz-se o branco no cabelo
É tanto azar que nos diz que os erros são banais
É tanta merda que nos faz ser mais originais
Demorei anos para escrever o que o tempo não decora
Quando anos são escritos pelo que mais demora
Cem vezes condenas situações por não seres ajudado
Não é ciência que te explica os olhos esbugalhados
Certas atitudes hipocritamente autodefesa
Quando mortes são só motivo p'a comermos todos à mesa
Há pessoas e dinheiro que partem do mesmo interesse
Com ambos, bebem-se uns copos, depois nunca mais os vês
E os tentáculos que se prendem aos dois, arrancas como podes
Sofres enquanto vives, amas enquanto morres

[Verso 2]
Acendo a luz, não durmo, não sei qual o meu turno
Mãos dormentes, frias por pânico e susto, graças a quê?
Eu hoje sinto-me um pouco mais incomum
Por ouvir uma estrela d'alvo em cada dia 21
O vento assobia à volta de uma insónia que me canta
Começa em escala menor como recordações de Alhambra
Sob um coro embalado no teu sossego intenso
Porque dormes num berço feito d'ouro como o silêncio
Semeias, a meias e se em meias forem todas as ideias
Ou queimas, há que coisas de que nem fazes ideia
Como o real daquilo que magoa no momento
Da vida em que dois corações batem numa só pessoa
Esquecendo essa pegada como uma dor nos ombros
És o meu único sonho que poderia ter sonhos
Passando a prova dos nove na cara da tua falta
Quatro linhas, uma rima, cinco linhas, uma pauta...