Johnny Virtus
Como É Que Sentes
(Verso 1)
O que é que sentes?
Como é que podes ser gente no meio de tanta gente?
Com esses sonhas do costume, ficaste mal acostumado
Tinhas a casa até as contas não caberem mais no carro
Vendido, estás vendado pelo imenso que trabalhaste
E foste dar à luz um filho na sombra de um orfanato
A par disso tapas a cara com uma revista 'Caras'
Pintaste na tua cara uma nação com duas caras
No número que Deus fez, a rotina faz um dia
Segurança Social, Correios e Tabacaria
A caminho conta os que fazem fila na farmácia, quantos?
Não há calma sem calmantes, nem futuro sem imigrantes
Desespera sentado, é sentença garantida
E por isso a minha tia Bela preferia ser Adormecida
Não reclames, acabou-se a tinta, amanhã fazes trinta e um
Governo dá-te os parabéns com Trinta e Um
E por seres cidadão comum, apoias cidadão comuns
Que antes de tirar a fome oferecem-te o jejum
Se não querias ser escritor, eles fazem com que partas
Promete ao teu amor que consegues viver com cartas
As mãos estão mais pequenas, mal cabe um anel no dedo
Diz-me que o fundo do teu coração está no fundo de desemprego
Estás noutro campeonato, não tens grau de seriedade
Enquanto outros campeonatos abrem o Jornal da Tarde

(Refrão) (2x)
Diz-me o que sentes, por quem te vence, por quem te rendes, quem, de repente, te mordeu sem ter mostrado os dentes
Por quem te ensina a mentir mentindo-te ao mesmo tempo, como é que sentes as coisas? Diz-me, como é que sentes?

(Verso 2)
Alguns pecados dentro do normal, tu és o que sempre cumpriu
Ao lado do teu Senhor, existe o teu senhorio
O que te obriga a pensar enquanto cada mês te afoga
É que hoje agarras-te ao café porque a fé não te acorda
Roupa lavada custa e um prato é visto a meias
Preso por preso, arrenda antes um quarto na cadeia
Não penses que é a tua importância quem te nomeia
Desiste ou pede um lugar VIP com vista para a assembleia
Não és esperto se não fores arrogante
Deram-te um chuto e quem te deu tinha os sapatos mais brilhantes
'Tu não jogas mais aqui', sai fora, agora és livre
Guita no bolso do quispo e meia hora na cabine
'Mãe, compra um rádio para te fazer companhia
Ou telefona e diz 'bom dia' à Praça da Alegria
Não morras, eu imploro-te, talvez eu volte um dia
Eu sei que a solidão é a única morte que a vida ensina
Não é no doce lar de idosos que a idade fica
Queimar um sonho e no cabelo nascerem fios de cinza
Sentes que dignidade é uma piada amarela
Constróis uma cara para outros se rirem à frente dela'
Sempre é para ir para o paraíso?
Visto que antes disso, o diabo enraba-te no teu país
Por quem te rendes, por quem te vence, por quem disfarças e mentes
Como é que sentes as coisas? Diz-me, como é que sentes?

(Refrão) (2x)
Diz-me o que sentes, por quem te vence, por quem te rendes, quem, de repente, te mordeu sem ter mostrado os dentes
Por quem te ensina a mentir mentindo-te ao mesmo tempo, como é que sentes as coisas? Diz-me, como é que sentes?

(Verso 3) (2x)
Por todos os que gritam em conjunto uma voz
Aos que estão sós e vivem longe a gritar por nós
Esta é a canção que embala quem não cala a nossa rua
Revolta, enquanto a vossa volta for a nossa luta