Johnny Virtus
O Lino Apaixonou-se
[Letra de: "O Lino Apaixonou-se"]

[Verso 1]
Foi sem contar enquanto atravessava a rua eu vi-a
Não a quis chamar talvez não quisesse esta companhia
Exceto nós os dois a rua estava já vazia
De certa forma esta circunstância até nos aproxima
Ela já tinha sorrido num ou noutro dia
Só com isso fez comigo aquilo que mais ninguém fazia
Mas se eu lhe dissesse alguma coisa o quê que lhe dizia?
Não podia ser o que eu sentia, nem eu sabia
Tentei manter a distância, mas fui p'ra onde ela ia
Pensei conter esta ânsia, mas no fundo não queria
Segui-lhe os passos tão de perto que agora os ouvia
Após um pedaço armei-me em esperto e puxei-lhe a mochila
Ela virou-se e perguntou se eu não ia p'ra casa
Ao que eu respondi num tom normal que não estava a segui-la
Depois sorriu quando notou que eu queria enganá-la
E se era p'ra fingir assim tão mal, para quê que fingia?

[Bridge]
Se eu pudesse punha as minhas mãos em torno dos teus dedos
P'ra ser honesto já nem tenho opção
Só a sensação de que a situação não vai ficar assim p'ra sempre

E a partir deste momento
Eu não voltei a reparar nos outros medos
P'ra ser honesto já nem tinha opção
Sem explicação esta emoção mudou-me eternamente

[Verso 2]
Eu só me ria nem podia disfarçar um pouco
Nada existiu quando senti as tuas mãos nos ombros
Acontecia o que não havia nos meus próprios sonhos
Sinestesia, conhecia o teu sabor pelas cores
É curioso que ele ficou mesmo quando tu foste
Acho que o resto desapareceu com este frio no estômago
No dia seguinte cheguei à escola mais cedo que os outros
'Tive na companhia deles sem fazer nenhum esforço
Hoje eles não pareceram maus nem eu parecia gordo
Ninguém disse piada nenhuma chunga acerca do meu corpo
Não sei ao certo como, mas as coisas 'tão sob controlo
Parece-me tudo novo
E eu acordava quando tu chegavas
Só desligava quando tu saías
Experimentava novas energias
Só as memórias destes preenchiam-me outros dias
Juntava todas em histórias longas e contínuas
Eu não sei se estou mudado
Ou se na verdade foste tu que viste coisas em mim
Simplesmente por teres olhado
Sei que agora faço parte, 'tou equilibrado
E mesmo quando saio cedo
Chego a casa tarde já cheio de saudades

[Bridge]
Se eu pudesse punha as minhas mãos em torno dos teus dedos
E ficava assim pra sempre
Muitas vezes dou por mim a recordar esses momentos

E hoje resolvi dizer-te
Assim passados tantos anos
Só p'ra te mostrar que não me esqueço
Só pra te mostrar que não me esqueço
Mesmo que tu já nem te lembres

[Verso 3]
Combinamos um café no sítio de outros tempos
Fumei meio maço à espera que aparecesses
Mudei um pedaço talvez não me conhecesses
Talvez já tenhas passado sem me veres
Olhei p'ro relógio, mas era cedo
Em dez segundos fi-lo vinte vezes
Contudo ela foi pontual tal como era sempre
Deu-me um abraço que acabou enquanto o meu manteve-se
Ela falava, mas eu só olhava atentamente
No fundo tentava decorar-lhe a cara em pensamento
Porque pouco ou nada se compara aquilo que eu me lembro
Nem acreditava que 'tavas sentada à minha frente
Vejo que não te incomoda pela forma como falas
Não sei se isto se nota, mas ignoro o que tu dizes
Deixei sair p'ra fora muito embora estas palavras
Talvez fossem agora uma desculpa p'ra tu ires
Ao mesmo tempo eu penso o quão estranho é sentir-me preso
Exatamente com a pessoa que me fez ser livre
É só que a atmosfera que transportas dá-me luz que chegue
P'ra eu achar erradamente que faço parte disso

Se eu pudesse punha as minhas mãos em torno dos teus dedos
Ficava assim p'ra sempre como te tinha prometido
Visto que me é difícil aceitar que não me encontro noutros tempos
Porque até as mesas estão no mesmo sítio